SÃO PAULO (Reuters) - A movimentação do BTG Pactual (SA:BBTG11) para vender ativos e preservar sua liquidez deve dar impulso adicional ao mercado de compra e venda de participações de empresas no Brasil em 2016, período que já tende a ser forte devido ao cenário econômico adverso, previu nesta quarta-feira uma executiva da Anbima.
"2016 será o ano do M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês) no Brasil, disse a diretora da Anbima, Carolina Lacerda, a jornalistas. "Esse caso (do BTG Pactual) deve acelerar isso".
Desde a prisão de André Esteves, então presidente-executivo e acionista controlador, em 25 de novembro, o BTG Pactual vem sofrendo sucessivos resgates de recursos de seus clientes, enquanto as units do grupo têm desabado na Bovespa.
Além das negociações para venda de carteiras de crédito, o BTG Pactual já vendeu participação no grupo hospitalar Rede D'or e sinalizou que pretende se desfazer de ativos não essenciais.
Para Carolina, o enfraquecimento da situação financeira de empresas brasileiras, combinado com um cenário prolongado de baixo acesso a crédito bancário, também deve impulsionar os anúncios de fusões em 2016.
"Há empresas de todos os tamanhos quebrando", disse a diretora da entidade que representa as instituições do mercado financeiro.
Segundo ela, a situação do BTG Pactual também está gerando uma corrida de rivais para obtenção de mandatos para fusões que estão sendo assessoradas pelo grupo financeiro.
"Numa situação dessas, a instituição perde o foco", disse.
Para Carolina, investidores nacionais tendem a ser líderes na ponta compradora, agindo por meio de family offices, por terem maior conhecimento do mercado e, portanto, capacidade de serem mais ágeis que os estrangeiros nas negociações.
Mas investidores financeiros bem capitalizados, como os gestores de private equity, mostram interesse em adquirir empresas com dificuldades, reestruturá-las para possivelmente revendê-las a investidores estratégicos alguns anos depois.
A Anbima prevê outro período fraco para o mercado de capitais doméstico em 2016, dadas as crises econômica e política, além de inflação e juros altos.
Em 2015 até novembro, as captações corporativas no país com instrumentos como debêntures, fundos de recebíveis e ações somaram 95,6 bilhões de reais, queda de 34,2 por cento ante mesma etapa do ano passado e o piso desde 2009.
FUNDOS
O cenário não foi muito melhor na indústria de fundos de investimento, que teve resgates líquidos de 20,4 bilhões de reais em novembro, o maior desde outubro de 2008. No acumulado do ano, a captação líquida diminuiu para 7,9 bilhões de reais, o menor montante desde 2008.
O número poderia ter sido pior não fossem a migração para fundos de parte dos recursos da caderneta de poupança, cuja rentabilidade tem perdido da inflação, e dos números ainda positivos dos fundos de previdência aberta.
Segundo o vice-presidente da Anbima, Carlos Takahashi, as captações do setor nos próximos meses tendem a se concentrar nos fundos de renda fixa, dada a expectativa de inflação ainda alta em 2016.
Sem dar detalhes, o executivo afirmou que a maior parte dos recursos resgatados de fundos geridos pelo BTG Pactual migrou para produtos de investimentos de outras instituições do país.
(Por Aluísio Alves)