BRASÍLIA (Reuters) - A caderneta de poupança teve em 2015 uma saída líquida de 53,568 bilhões de reais, pior resultado anual da série histórica do Banco Central iniciada em 1995, refletindo a pressão para a retirada de recursos em meio à derrocada da economia, num ano também marcado por juros e inflação em patamares elevados.
A captação negativa tem impacto sobre o financiamento imobiliário, uma vez que as regras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) determinam que parte dos depósitos na caderneta devem ser obrigatoriamente direcionados ao crédito habitacional.
Enquanto o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) teve perda líquida de 50,149 bilhões de reais no ano passado, a poupança rural teve saldo negativo de 3,419 bilhões de reais.
A captação anual havia ficado no vermelho pela última vez em 2005, mas em nível bem mais modesto, com saída líquida de 2,720 bilhões de reais.
Em dezembro, a poupança registrou entrada líquida de 4,790 bilhões de reais, revertendo 11 meses consecutivos de resultados negativos. Mesmo assim, o desempenho foi o mais fraco para o mês desde 2011, quando a captação chegou a 3,590 bilhões de reais.
No ano passado, os brasileiros fizeram mais resgates do que aportes na tradicional caderneta diante de um cenário de recessão econômica, com aumento da inflação, queda na renda real dos trabalhadores e deterioração no mercado de trabalho.
Além disso, os juros também subiram, encarecendo o custo geral dos empréstimos no país.
Para combater a alta da inflação medida pelo IPCA, que deve encerrar 2015 em 10,78 por cento segundo pesquisa Reuters, o BC elevou a Selic em 3,25 pontos percentuais de outubro de 2014 a julho do ano passado, deixanda-a estacionada em 14,25 por cento ao ano desde então.
Mesmo inalterada há meses, a taxa segue bem distante do retorno entregue pela poupança, que é de 6 por cento ao ano mais um pequeno acréscimo da Taxa Referencial (TR). Como consequência, a poupança também perde atratividade aos olhos dos investidores em comparação a aplicações que têm remuneração baseada na Selic.
(Por Marcela Ayres)