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ENTREVISTA-Italiana Enel mira negócios em energia no Brasil e quer ser consolidadora

Publicado 02.10.2017, 17:59
© Reuters. Logo da italiana Enel na sede da empresa em Roma, Itália
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Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - O grupo italiano Enel (MI:ENEI) quer ampliar os negócios em energia no Brasil e avalia diversas oportunidades de investimento, tanto em geração renovável quanto nos setores de transmissão e distribuição de eletricidade, com o objetivo de se fixar como uma das grandes empresas que dominarão o mercado brasileiro no futuro.

O diretor da Enel para o Brasil, Carlo Zorzoli, disse à Reuters que a companhia quer se estabelecer entre os líderes em um momento em que o setor elétrico do país passa por mudanças, com gradual aumento da participação de grandes empresas internacionais em meio à venda de ativos principalmente por estatais ou grupos locais.

Esse movimento de consolidação tem sido visto principalmente nos negócios de distribuição, e a Enel está preparada para ganhar espaço no segmento, o que deverá incluir a análise de oportunidades como a venda da Light (SA:LIGT3) pela Cemig (SA:CMIG4) e a privatização de concessionárias da estatal Eletrobras (SA:ELET3) que atuam no Norte e Nordeste, que o governo quer concluir até o início de 2018.

"Estamos ativos no mercado, mirando boas oportunidades. Escolhemos aquelas que se encaixam melhor em nossa estratégia e vamos para elas", disse Zorzoli na tarde da última sexta-feira, após ter fechado na semana passada um negócio bilionário em geração hidrelétrica.

"Distribuição é um setor que está vivendo um momento de consolidação. O número de operadores é grande no Brasil. Acreditamos que ainda tem oportunidades de crescimento... e quem pouco consolida, é consolidado", completou.

O executivo da Enel também elogiou a proposta do governo federal de apresentar um novo modelo para a venda das distribuidoras da Eletrobras.

Essas distribuidoras, que são fortemente deficitárias, poderão ter um reajuste extra de cerca de 10 por cento nas tarifas antes de serem oferecidas aos investidores, e vencerá a disputa pelos ativos aquele que aceitar assumir as concessões pela menor tarifa final ao consumidor. O preço dos ativos deverá ser simbólico, de 1 real, de acordo com fontes com o conhecimento do assunto.

"Isso significa que o Poder Concedente está entendendo a situação daquelas companhias. É uma proposta realista, inteligente, com benefício para os clientes... provavelmente vai permitir êxito no leilão", disse Zorzoli.

Ele disse que a Enel certamente irá avaliar as oportunidades devido a seu apetite por crescimento, mas ressaltou que "é muito cedo" para falar de forma mais concreta sobre o interesse nos ativos.

Zorzoli também não quis dar muitas pistas sobre uma possível compra da Light, colocada no mercado em meio a um plano de venda de ativos para redução de dívidas de sua controladora, a mineira Cemig.

A Light é responsável pela distribuição de energia na região metropolitana do Rio, uma área próxima de onde atua a Enel Distribuição Rio --regiões prósperas, mas com enormes problemas sociais, como uma disputa por territórios entre milícias, traficantes e forças policiais.

"Estamos olhando todas oportunidades... porém depende das condições... por um lado pode ter sinergias, por outro pode nos sobrecarregar de problemas. É uma área complicada", disse.

No ano passado, a Enel mostrou a apetite pelo segmento de distribuição ao comprar junto à Eletrobras a concessionária Celg-D, que atende o Estado de Goiás, por cerca de 2,2 bilhões de reais.

Segundo Zorzoli, a estratégia do grupo em distribuição passa por um forte investimento em modernização, com a instalação até o final deste ano de quase 6 mil equipamentos de controle remoto na rede de suas empresas no Rio de Janeiro, Ceará e Goiás.

GERAÇÃO E TRANSMISSÃO

Em geração, a Enel acaba de fechar a compra por 1,4 bilhão de reais da hidrelétrica Volta Grande, que pertencia à Cemig e foi colocada em leilão pelo governo federal devido ao vencimento do contrato de concessão.

A usina junta-se agora a um portfólio da Enel no país que inclui uma termelétrica, usinas hidrelétricas, parques eólicos e plantas solares fotovoltaicas.

"A compra de Volta Grande entra na estratégia de crescimento em energia renovável", disse Zorzoli, que ressaltou o interesse principalmente por ativos eólicos e solares.

No caso de hidrelétricas, a Enel irá avaliar projetos de pequeno porte que tenham a concessão oferecida pelo governo em licitações.

Em geração eólica e solar, a companhia avalia disputar leilões agendados pelo governo para o final do ano, que contratarão novas usinas para operação a partir de 2021 e 2023.

"Sem dúvida, cadastramos projetos para participar. Depois, como sempre, a decisão definitiva de participar ou não é tomada na hora... mas posso lembrar que nos últimos anos sempre participamos", disse o executivo.

© Reuters. Logo da italiana Enel na sede da empresa em Roma, Itália

Ele afirmou que a Enel também avalia disputar os próximos leilões em que o governo oferecerá a concessão para a construção de novas linhas de transmissão de eletricidade.

"Certamente é um setor de negócio que tem uma boa regulação no Brasil, que tem muita necessidade de investimentos nos próximos anos, uma área em que muitas oportunidades estarão presentes... o grupo Enel tem todo know-how e capacidade tanto de desenvolvimento quanto construção e operação desses ativos", disse.

O governo promoverá em dezembro um leilão de concessões de transmissão que devem exigir 8,8 bilhões de reais para serem implementados, e outros certames que preveem vultosos investimentos estão previstos para o próximo ano.

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