Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - No segundo debate entre os principais candidatos à Presidência da República, realizado nesta sexta-feira pela RedeTV e pela revista IstoÉ, o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, buscou polarizar com Geraldo Alckmin, do PSDB, e o embate mais duro do encontro ficou por conta de um duelo entre Marina Silva, da Rede, e Jair Bolsonaro, candidato do PSL.
Pela segunda vez, o debate entre os postulantes ao Palácio do Planalto não contou com um representante do PT, depois que a Justiça Eleitoral rejeitou pedido do partido para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba e lidera as pesquisas, participasse do encontro.
A organização do debate chegou a colocar um púlpito para Lula, mas ele foi retirado do estúdio, de acordo com a RedeTV, por decisão da maioria dos oito presidenciáveis presentes. Apenas o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, defendeu a manutenção do púlpito no estúdio.
No duelo mais duro do debate, Bolsonaro indagou Marina sobre a posição dela a respeito do porte de arma. A candidata da Rede se declarou contrária ao porte de arma de fogo, mas usou a maior parte do tempo de resposta para criticar o rival que, pouco antes, ao responder pergunta do candidato do MDB, Henrique Meirelles, disse que não era necessário se preocupar com a diferença de salários entre homens e mulheres, pois a igualdade está prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
"Só uma pessoa que não sabe o que significa uma mulher ganhar um salário menor do que um homem e ter as mesmas capacidades, a mesma competência e ser a primeira a ser demitida, ser a última a ser promovida e quando vai a uma fila de emprego, pelo simples fato de ser mulher, não é aceita. Não é uma questão de que não precisa se preocupar. Tem que se preocupar, sim", disparou Marina.
"Precisa se preocupar, sim. O presidente da República está lá para combater injustiça", acrescentou.
Bolsonaro rebateu atacando Marina por sua defesa de plebiscitos para decidir questões como eventuais mudanças na legislação sobre o aborto e legalização da maconha.
"Temos aqui uma evangélica que defende o plebiscito para aborto e para maconha, e quer agora defender a mulher. Você não sabe o que é uma mulher, Marina, que tem um filho jogado no mundo das drogas", disse Bolsonaro, que chegou a afirmar que a adversária não podia interrompê-lo quando ela fez uma tentativa neste sentido.
Marina rebateu, então, mirando no estilo de Bolsonaro.
"Você acha que pode resolver tudo no grito, na violência. Nós somos mães, nós educamos os nossos filhos. A coisa que uma mãe mais quer é ver o filho ser educado para ser um cidadão de bem e você fica ensinando os nossos jovens que tem que resolver as coisas é na base do grito", criticou.
"Numa democracia, o Estado é laico", completou, ao rebater as críticas do adversário sobre a ideia de plebiscitos sobre aborto e a legalização da maconha.
Chamado ao palco logo em seguida para fazer uma pergunta ao candidato do Patriota, Cabo Daciolo, Guilherme Boulos aproveitou o embate anterior para mirar em Bolsonaro.
"Quero parabenizar você, Marina, por ter colocado o Bolsonaro no seu lugar", disse.
CIRO X ALCKMIN
Nos momentos em que o encontro enveredou para discussões sobre economia e emprego, Ciro buscou perguntar a Alckmin e, em tom ameno, pontuar diferenças de propostas que tem com o tucano.
"Governador Alckmin não me leve a mal, mas nós precisamos esclarecer aí umas diferenças de compreensão do Brasil. Então se vossa excelência me permite, o convido novamente ao palco, para não dizer ringue", disse Ciro em um dos momentos em que chamou Alckmin para o embate.
Em um outro momento de duelo entre ambos, Alckmin afirmou que o PSDB fez o Plano Real, na época em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi ministro da Fazenda.
Ciro rebateu a afirmação: "Quem fez o Plano Real foi o Itamar Franco, presidente muito injustiçado", disse o pedetista.
Alckmin então respondeu. "Toda a homenagem ao presidente Itamar Franco", disse. "Ele acertou quando trouxe o Fernando Henrique", acrescentou.
PÚLPITO DE LULA
Principal ausente da noite, Lula, que deve ser impedido de disputar a eleição com base na Lei da Ficha Limpa, foi citado apenas duas vezes: em uma pergunta do candidato do Podemos, Alvaro Dias, a Marina, e em um comentário de Bolsonaro sobre a retirada do púlpito destinado ao petista.
"O político inelegível não é um preso político, é um político preso", disse Dias sobre Lula. "Não há como admitir essa vergonha nacional de uma encenação de uma candidatura que não pode existir", acrescentou ele, ao indagar Marina sobre sua opinião sobre este tema.
A candidata da Rede se disse comprometida com o combate à corrupção e aproveitou para alfinetar Alckmin, que fechou coligação com várias legendas que foram da base de governos petistas e do governo do presidente Michel Temer.
"Este púlpito vazio já está preenchido pelos mesmos que estavam no palanque anterior, já no palanque do candidato do PSDB. É por isso que eu digo, Alvaro, aqueles que criaram o problema, não vão resolver o problema."
No segundo momento em que Lula foi citado, Bolsonaro elogiou a RedeTV pela retirada do púlpito destinado a Lula.
"Quando aqui cheguei havia um púlpito que ninguém ocupava. Naquele espaço estava escrito 'Luiz Inácio Lula da Silva'. Então junto à direção, fiz esse questionamento e quero agradecer à RedeTV por ter retirado o púlpito do Lula. Não podemos dar espaço aqui para um bandido condenado por corrupção", disse Bolsonaro.
A organização do debate voltou a esclarecer, então, que o púlpito foi retirado por decisão de todos os participantes, com exceção de Boulos.
Meirelles, que tem tido dificuldade de ter desempenho significativo nas pesquisas, buscou dizer que não é político e que, quando ocupou posições-chave na condução da economia, 12 milhões de empregos foram criados. Tentou ainda polarizar em vários momentos com Bolsonaro, como quando indagou o rival sobre disparidade salarial entre gêneros.
Boulos mirou em Meirelles, a quem chamou de "banqueiro", e Alckmin, voltando a se referir a "50 tons de Temer" em seus rivais.
Assim como no debate anterior, realizado na semana passada pela TV Bandeirantes, Cabo Daciolo manteve um discurso em tom religioso, sempre levando uma Bíblia na mão e dando "glória" a Jesus Cristo.