Teresa Bouza.
Washington, 15 set (EFE).- O problema da mudança climática só
será resolvido se o investimento em pesquisa e desenvolvimento
oscilar entre US$ 100 bilhões e US$ 700 bilhões anuais nas próximas
décadas, afirmou hoje o Banco Mundial (BM).
Esses investimentos, necessários para transformar os sistemas
energéticos mundiais, representam um grande aumento frente aos US$
13 bilhões anuais de recursos públicos e aos entre US$ 40 bilhões e
US$ 60 bilhões de recursos privados investidos atualmente, afirma um
estudo publicado hoje pelo BM.
"Os US$ 13 bilhões de dinheiro público que são investidos
anualmente em pesquisa e desenvolvimento são muito pouco", disse à
Agência Efe Marianne Fay, codiretora do Relatório de Desenvolvimento
Mundial 2010, que este ano se concentra na mudança climática.
"Isso é mais ou menos o que gastam a cada ano os americanos em
comida para animais de estimação ou o que meu país, a França, gasta
em queijo", afirmou a economista do Banco Mundial.
A especialista afirmou que, nos próximos 10 ou 20 anos, serão
construídas mais unidades de energia elétrica do que em toda a
história.
Segundo Fay, isso ocorrerá porque muitas das unidades nos Estados
Unidos e na Europa construídas nos anos 50 estão chegando ao final
de seu ciclo e terão que ser substituídas por novas instalações.
Além disso, segundo Fay, há o previsto aumento das necessidades
energéticas no mundo em desenvolvimento, que a economista avaliou em
45% entre hoje e 2030.
"Se essas novas unidades elétricas não produzirem energia de
forma limpa, o que ocorrerá é que vão aumentar em quase 50% as
emissões de CO2, e o que necessitamos é uma redução de 50%",
ressaltou a economista.
Diante dessa situação, o presidente do Banco Mundial, Robert
Zoellick, pediu hoje que os países "atuem agora, atuem juntos e
atuem de maneira diferente em relação à mudança climática".
Em comunicado divulgado pelo BM, lembrou que "os países em
desenvolvimento são afetados pela mudança climática de forma
desproporcional" e que são os que estão "menos preparados" para uma
crise pela qual "não são responsáveis".
O presidente do BM destacou que "é de vital importância conseguir
um acordo equitativo em Copenhague", onde em dezembro acontecerá uma
conferência que espera colocar as bases para um grande convênio
global que estabeleça as regras após expirar o Protocolo de Kioto,
em 2012.
O estudo indica que os países em desenvolvimento podem iniciar o
caminho de um baixo nível de emissões de carbono, ao mesmo tempo em
que promovem o desenvolvimento e diminuem a pobreza, mas isso
depende da assistência financeira e técnica dos países ricos.
O relatório indica que os fundos de investimento no clima,
administrado pelo BM e executado com os bancos regionais de
desenvolvimento, oferecem uma oportunidade para potencializar o
apoio das nações mais avançadas, já que esses recursos podem ajudar
a reduzir os custos das tecnologias de baixo nível de carbono nos
países pobres.
Além disso, o Banco Mundial insistiu em que a crise financeira
não pode ser uma desculpa para relegar a mudança climática a um
segundo plano.
O documento destaca que, embora as crises financeiras possam
provocar grandes danos e desacelerar o crescimento a curto e médio
prazo, raramente duram mais do que alguns anos.
A ameaça do aquecimento climático, pelo contrário, "é muito mais
séria e duradoura".
Fay destacou que, diante das incertezas provocadas pelo
aquecimento do planeta, que os cientistas apontam como responsável
pelas maiores secas, inundações e um aumento do nível do mar, é
necessária uma mudança de mentalidade.
"Estamos entrando em um período de muitas incertezas", disse a
especialista, acrescentando que, antigamente, as colheitas eram
escolhidas em função de qual era mais resistente perante um tipo
determinado de clima.
"A partir de agora, teremos que escolher colheitas resistentes a
diferentes tipos de clima", disse a economista, afirmando que um
critério similar terá que reger o design de estruturas como pontes
ou outras obras de engenharia civil. EFE