Teresa Bouza.
Istambul (Turquia), 5 out (EFE).- Os países-membros do Banco
Mundial (BM) pediram hoje à entidade para que prepare um relatório
sobre suas necessidades de capital depois que os diretores da
instituição anunciaram que enfrentará tempos difíceis.
"Comprometemo-nos a assegurar que o Banco Mundial terá recursos
suficientes para fazer frente a seus desafios futuros de
desenvolvimento", disse hoje o Comitê de Desenvolvimento da
entidade, no qual estão representados seus 186 membros, ao final de
sua reunião hoje em Istambul (Turquia).
Principal órgão executivo do BM, o comitê encarregou o banco de
conduzir uma análise sobre suas necessidades futuras de capital, a
qual deverá ser apresentada durante a próxima reunião semestral,
marcada para abril de 2010 em Washington.
A decisão abre um processo com o qual o BM procura ampliar sua
base de capital para fazer frente às crescentes necessidades do
mundo em desenvolvimento.
O presidente do organismo, Robert Zoellick, reforçou hoje em
entrevista coletiva que a entidade passará por "sérias limitações"
financeiras a partir de meados do ano que vem.
Zoellick lembrou que a crise está fazendo com que a demanda de
empréstimos passe dos US$ 100 bilhões previstos para serem
concedidos entre 2009 e 2011.
O Banco Mundial triplicou seus empréstimos até US$ 33 bilhões
durante o último ano fiscal, concluído em 30 de junho, e espera que
essa cifra aumente para pelo menos US$ 40 bilhões no presente
exercício.
Porém, nem todos os membros do BM parecem dispostos a dar um
cheque em branco para Zoellick.
A ministra da Economia francesa, Christine Lagarde, disse crer
durante o encontro realizado em Istambul que o banco não precisa de
um financiamento extra.
"O banco tem certamente uma série de opções e margens de manobra
que não justificam um aumento de capital neste momento. Essa é a
posição da França", disse Lagarde no domingo em declarações à
imprensa.
A ministra insistiu hoje durante seu discurso para o Comitê de
Desenvolvimento que, caso recursos adicionais sejam entregues, será
necessário "garantir os interesses dos países mais pobres".
Similares reservas mostrou o Secretário de Estado de
Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, Douglas Alexander, ao
ressaltar que "o BM continua sendo peça-chave nos esforços da
comunidade internacional para reduzir a pobreza".
Mesmo assim, Alexander destacou que o capital adicional tem
"custos significativos", como a possibilidade de que a divisão do BM
que concede empréstimos sem juros e doações aos países mais pobres
não consiga obter os fundos necessários quando começar sua rodada de
arrecadação no ano que vem.
O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, disse que,
antes da tomada de uma decisão sobre o assunto, será preciso
estabelecer se os recursos são de fato necessários e ter a segurança
de que estes "serão bem administrados e usados de forma efetiva".
Hoje, Zoellick fez questão de tirar a importância desse tipo de
comentário e disse que fazem parte do "jogo político".
O responsável pelo BM disse estar satisfeito com o apoio que os
países em desenvolvimento deram à iniciativa e assegurou que nações
desenvolvidas como Holanda e Espanha também veem o projeto com bons
olhos.
Zoellick também expressou o compromisso da instituição de
aumentar em pelo menos três pontos percentuais o peso dos países em
desenvolvimento na instituição, o que lhes daria 47% do poder de
voto.
Esse aumento acompanha o compromisso alcançado na recente cúpula
do Grupo dos Vinte (G20, países desenvolvidos e principais
emergentes), em Pittsburgh (EUA).
O G20, que concentra quase 70% da economia mundial, também
declarou apoio a um aumento de pelo menos cinco pontos percentuais
do peso dos emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI). EFE