BC vê mais inflação em 2016 e diz que ficará vigilante frente a "demais políticas"

Publicado 29.10.2015, 10:45
© Reuters. Sede do Banco Central, em Brasília

Por Patrícia Duarte

SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central piorou sua previsão para a inflação neste ano e em 2016, afirmando que ambas estão acima do centro da meta, e elevou o tom ao afirmar que permanecerá vigilante "independentemente do contorno das demais políticas", citando claramente o atual cenário fiscal conturbado e incerto,

imprimindo algum viés de alta para eventualmente elevar os juros básicos mais à frente.

Segundo ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC divulgada nesta quinta-feira, ainda há dúvidas sobre o balanço de riscos, notadamente a velocidade da recuperação dos resultados fiscais e à sua composição e, assim, que o realinhamento de preços relativos está mais demorado e intenso do que o previsto.

"Nesse contexto, o Comitê entende que, independentemente do contorno das demais políticas, a política monetária deve se manter vigilante", informou, repetindo que isso serve para assegurar a convergência da inflação para o centro da meta "no horizonte relevante".

Na semana passada, o BC decidiu por unanimidade manter a Selic em 14,25 por cento ao ano, mas mudou o discurso em relação à convergência da inflação para o centro da meta, deixando claro que o objetivo será alcançado não mais no fim de 2016, mas em 2017, em meio ao cenário de indefinições fiscais e turbulências políticas no país. [nL1N12M0BC]

"Nitidamente, (a ata) veio com um tom mais 'hawkish' do que se esperava por conta do lado fiscal", afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, para quem o BC fez uma avaliação mais rigorosa sobre o cenário fiscal, citando junto "incertezas" no ambiente doméstico. Mesmo assim, ele acredita que a Selic ficará estável até meados de 2016, podendo começar a recuar "dependendo das expectativas de inflação".

Nesta semana, o governo alterou novamente a meta de resultado primário para 2015, passando a ver déficit do setor público consolidado de pelo menos 48,9 bilhões de reais, sem contar o pagamento das chamadas pedaladas fiscais e a eventual frustração de receitas com leilão de hidrelétricas previsto para ocorrer ainda este ano. [L1N12S094]

Para o BC, o cenário fiscal tende a se tornar neutro ou até mesmo contracionista, mas "de forma lenta e em menor intensidade em relação ao anteriormente projetado".

Mas ressaltou que "indefinições e alterações significativas na trajetória de geração de superavit primários, bem como na sua composição, impactam as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação e contribuem para criar uma percepção negativa sobre o ambiente macroeconômico".

A economista-chefe da consultoria Rosenberg & Associados, Thaís Zara, disse em nota que "o Copom deu as cartas, o nome do jogo é incerteza fiscal".

"Por enquanto, seguirá apostando em (ministro da Fazenda, Joaquim) Levy para o auxiliar na tarefa de recuperação da confiança e controle do processo inflacionário. Se perceber sinais de blefe, ou de que Levy não tem cartas melhores do que as hordas dos que se opõe ao ajuste fiscal, vai se retirar desta mesa e ir apostar suas fichas na roleta da alta de juros", disse a economista, acrescentando que está revisando seu cenário, "mas, por ora, considere um forte viés de alta sobre os juros no próximo ano.

© Reuters. Sede do Banco Central, em Brasília

Pelo cenário de referência, que leva em consideração o dólar a 3,85 reais e a Selic a 14,25 por cento, o BC piorou sua projeção sobre a inflação em 2015 e em 2016, sendo que ambas ficam acima do centro da meta --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. O BC, que não faz estimativas numéricas pela ata, em setembro via que a inflação de 2016 estava em torno do centro da meta.

O BC, pela ata, voltou a afirmar que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, "por período suficientemente prolongado", é necessária para a convergência da inflação, deixando claro que, pelo menos por enquanto, não vai mexer na Selic, em meio ao cenário de economia em recessão.

Economistas de instituições financeiras já vinham piorando sucessivamente suas projeções para a inflação. Para 2016, a pesquisa Focus mais recente aponta expectativa de alta do IPCA a 6,22 por cento, contra 6,12 por cento no levantamento anterior. Para 2017, a expectativa é de 5 por cento.

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