Gina Baldivieso.
La Paz, 17 fev (EFE).- A falta de financiamento e promoção começa a ameaçar a restauração de uma fortaleza pré-hispânica construída entre os séculos XI e XV em forma de serpente, a qual é considerada "sagrada" e se situa no topo de uma montanha do departamento de La Paz, na Bolívia.
Trata-se da Inkataca (Vale Sagrado), um complexo arqueológico descoberto nos vales do município de Irupana, a 151 quilômetros da cidade de La Paz. O complexo em questão é formado por centena de estruturas, entre casas, templos, praças e plataformas.
A existência dessa cidade tornou-se pública na mesma semana que as autoridades bolivianas lançaram um plano de investimentos e de promoção cultural para salvá-la.
Nos últimos dois anos, a região foi minuciosamente estudada pela arqueóloga italiana Patrizia Di Cosimo, que apresentou nesta semana os resultados de sua pesquisa ao governador de La Paz, César Cocarico.
A especialista explicou à Agência Efe que chegou à Bolívia em 2001 para fazer uma pesquisa sobre as rotas incas do Takesi, nos Yungas, como são chamados os vales do município de Irupana.
Ao passar pela comunidade de Lambate, também em Irupana, os camponeses da região informaram a pesquisadora sobre a existência da fortaleza de Inkataca, situada especificamente no vale de Chungamayu.
De acordo com Patrizia, o local não pode ser considerado como uma espécie de descoberta. No entanto, esta seria a primeira vez que o local receberia uma equipe de especialistas para "reconhecerem seu valor" e, principalmente, traçar um estudo detalhado.
As estruturas da fortaleza formam uma espécie de serpente que se estende por quase dois hectares da colina, situada em um local que estudos prévios da italiana identificaram como "Beco Lombada".
Segundo a italiana, a localização da fortaleza é "muito particular" e de difícil acesso, já que ela fica no topo de uma "lombada", dominando o cruzamento dos rios Chungamayu e Choqueyapu, o que lembra o santuário inca de Machu Picchu, no Peru.
"Tem traços andinos: fica em uma montanha, é resguardada, rodeada por um rio, tem praças, setores de quartos e setores cerimoniais. Ou seja, tem alguns traços semelhantes aos encontrados em Machu Picchu", assinalou Patrizia.
Devido a sua localização, acredita-se que o lugar é muito sagrado e carregado de energia, centrada nos poderes da terra e da água.
A arqueóloga e sua equipe ainda não conseguiram determinar que cultura ocupava a fortaleza de Inkataca, já que o lugar tem traços tanto incas como da civilização tiahuanacota, que dominou o planalto andino entre os anos de 1580 a.C e 1172 d.C.
"Estamos falando de uma cultura local, mas ainda não se sabe exatamente qual", disse à Efe Patrizia, que batizou o lugar com o nome provisório de Chungamayu, em referência ao povo que habitou essa fortaleza.
Segundo Patrizia, o lugar está "relativamente bem conservado", mas é necessário aplicar um plano que precisaria de um maior financiamento para preservá-lo adequadamente.
O primeiro item apontado pela arqueóloga é resguardar a fortaleza dos saqueadores e traficantes de materiais arqueológicos. Isso porque o lugar é muito afastado das comunidades camponesas e não há quem o vigie para evitar os possíveis roubos.
Algumas estruturas também precisam ser restauradas, assim como suas trilhas. Atualmente, o acesso à fortaleza ainda é bem restrito, o que dificultaria a presença dos futuros visitantes.
A Prefeitura de Irupana possui um projeto de revalorização dos parques arqueológicos da região, incluindo Inkataca, que tem o apoio do governo de La Paz, mas ainda precisa de financiamento.
O governador agradeceu a pesquisa feita pela arqueóloga italiana e acrescentou que esta servirá "para mostrar a beleza arquitetônica da cultura ancestral de La Paz".
Além de parabenizar Patrizia, o governante também assegurou que já estão sendo construídos caminhos e pontes para facilitar o acesso à fortaleza e se comprometeu a apoiar os projetos para restaurar e preservar o lugar. EFE