Rio de Janeiro, 26 mai (EFE).- A normalização do comércio entre Brasil e Argentina será lenta e depende de novas reuniões entre os negociadores dos dois países, já que as divergências bilaterais não foram superadas no encontro desta semana em Buenos Aires, disseram nesta quinta-feira fontes oficiais brasileiras.
"As negociações prosseguirão em uma reunião em Brasília prevista ocorrer em até duas semanas. Na reunião de Buenos Aires houve avanços, mas não um acordo para eliminar as licenças não-automáticas adotadas pelos países", disse à Agência Efe um porta-voz do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro.
As divergências entre os dois maiores sócios do Mercosul se agravaram há duas semanas, depois de o Brasil impor licenças não-automáticas à importação de automóveis de todo o mundo, uma restrição que prejudica principalmente a Argentina.
A medida foi interpretada como uma represália às barreiras da Argentina a diferentes produtos brasileiros, já que esse país aumentou significativamente no início deste ano o universo de produtos aos quais aplica licenças não-automáticas de importação para proteger a indústria local.
A decisão brasileira gerou uma dura resposta da Argentina e obrigou os dois países a pactuar uma flexibilização em suas restrições e a programar uma reunião de ministros-adjuntos que ocorreu na segunda-feira e terça-feira passada em Buenos Aires, um primeiro passo para as negociações.
"A liberação de produtos retidos nas fronteiras pelas licenças não-automáticas continua sendo gradual. O Brasil acelerou as licenças para inúmeros veículos e a Argentina está permitindo gradualmente a entrada de alimentos, pneus, tratores, colheitadeiras, calçados e outros produtos que aguardavam autorização", disse o porta-voz consultado pela Efe.
A mesma fonte negou que o Governo brasileiro esteja disposto a impor "cotas voluntárias" de exportações à Argentina como forma de superar as divergências.
Segundo o jornal especializado em economia "Valor", o Brasil está aparentemente estudando a possibilidade de aceitar restrições voluntárias de suas exportações à Argentina de produtos como máquinas agrícolas para acabar com a disputa comercial.
A mesma publicação garante que o Brasil pretende consultar às associações brasileiras de empresários para medir a receptividade dessa proposta, aparentemente apresentada pela Argentina na reunião de Buenos Aires.
A adoção de cotas informais de exportação chegou a ser adotada no passado para restringir o comércio de produtos como calçados e eletrodomésticos.
Apesar das restrições das duas partes seguirem vigentes, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Fernando Pimentel, negou na quarta-feira que os acordos de Buenos Aires foram um fracasso.
"Negociamos bastante. Avançamos no sentido de conhecer as posições de cada um. Não acho que foi um fracasso. Trata-se de um processo de negociação. Não vai ser na primeira reunião que vamos resolver as diferenças", afirmou Pimentel.
O ministro admitiu ter sido sondado, informalmente, pelos negociadores argentinos sobre a possibilidade de o Brasil adotar cotas voluntárias, mas esclareceu que se trata de algo difícil, que exige consultas com o setor privado brasileiro. EFE