Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil fechou 2024 com uma saída líquida total de 18,014 bilhões de dólares do país, conforme dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central, no pior resultado para o fluxo cambial desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 contribuiu para um resultado negativo de 27,923 bilhões de dólares.
No ano passado, o país sofreu um saída recorde de recursos pela via financeira, compensado apenas parcialmente pela entrada de dólares pelo canal comercial, que também foi a maior da série do Banco Central.
Ao se excluir o ano de 2020, o fluxo negativo total de 2024 foi o pior para um ano desde 2019, quando saíram do país 44,768 bilhões de dólares líquidos, conforme a série histórica do BC, iniciada em setembro de 2008.
O resultado do ano passado foi consequência da saída de 87,214 bilhões de dólares pela via financeira -- um recorde para a série iniciada em setembro de 2008. O montante superou de longe a entrada de 69,200 bilhões de dólares no país pela via comercial.
Pelo canal financeiro são realizados os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, as remessas de lucro e o pagamento de juros, entre outras operações. Já o canal comercial contabiliza o fluxo relacionado a exportações e importações.
Os dados mais recentes são preliminares e fazem parte das estatísticas referentes ao câmbio contratado.
DEZEMBRO
Apenas no último mês de 2024 o Brasil registrou fluxo cambial total negativo de 26,410 bilhões de dólares -- saída recorde para dezembro -- em movimento também puxado pela via financeira.
Por este canal, houve saídas líquidas de 28,861 bilhões de dólares em dezembro, contra entradas de 2,450 bilhões de dólares pelo canal comercial.
A saída pela via financeira em dezembro foi a maior para o mês na série histórica, em meio ao movimento de remessas de recursos por empresas e fundos ao exterior e à saída de investimentos estrangeiros de ativos brasileiros.
O movimento ocorreu em um contexto de desconfiança dos investidores globais na capacidade de o governo Lula equilibrar as contas públicas.
Para dar conta da demanda por moeda para saída de recursos do país, o Banco Central realizou em dezembro leilões de dólares e operações de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro), injetando no sistema um total de 32,6 bilhões de dólares.
Ainda assim, o dólar encerrou dezembro com uma alta acumulada de quase 3% ante o real.
Na semana passada, de 30 de dezembro de 2024 a 3 de janeiro de 2025, o fluxo cambial total foi negativo em 5,602 bilhões de dólares, conforme o BC. A semana teve apenas três dias úteis em função do feriado de Ano Novo.