Buenos Aires, 5 out (EFE).- O ministro da Defesa, Nelson Jobim,
insistiu hoje, em Buenos Aires, em que o Brasil não tem a intenção
de empreender uma "corrida armamentista", mas fazer uma "capacitação
nacional" para o desenvolvimento tecnológico, e afirmou que o país
"não é comprador de armas".
Antes de discursar diante de empresários e políticos argentinos
sobre o Plano Nacional de Defesa do Brasil, Jobim deu uma entrevista
coletiva, na qual falou sobre os recentes acordos militares fechados
com a França, através dos quais seu país comprará quatro submarinos
convencionais e um de propulsão nuclear, além de 50 helicópteros.
Nesse sentido, destacou que a França foi o país escolhido por sua
"incrível autonomia tecnológica" e seu compromisso absoluto de
transferência de tecnologia.
O país deve comprar ainda 36 caças Rafale, da companhia francesa
Dassault Aviation, que competem em uma licitação com os modelos
Gripen NG, da empresa sueca Saab, e os F-18 Super Hornet, da
americana Boeing.
O "Brasil não é comprador de armas", esclareceu Jobim. "Queremos
fazer uma capacitação nacional para o desenvolvimento da tecnologia.
Os senhores sabem que as pesquisas em matéria tecnológica têm sua
origem em pesquisas militares. Nós temos centros de excelência na
área militar e queremos fazer uma integração com as universidades",
disse.
Jobim afirmou que os setores espacial, nuclear e cibernético são
assuntos "estratégicos" para o Brasil.
Diante de uma pergunta se o país consideraria uma eventual
aliança nuclear com o Irã, o ministro respondeu que "não existe tal
possibilidade".
"Primeiro, porque a Constituição brasileira proíbe pesquisas
sobre armas nucleares e, segundo, porque nós somos signatários do
Tratado de Não-Proliferação Nuclear", explicou.
"Nós queremos desenvolver tecnologias nucleares para três coisas:
para a propulsão, devido à importância que o Brasil atribui ao
submarino de propulsão nuclear; para o reator, que pode proporcionar
uma usina de produção de energia elétrica; e para aplicar essa
tecnologia nos campos da medicina e da agricultura", afirmou.
Após insistir em que o Brasil "não renunciará à capacitação em
tecnologia nuclear para usos pacíficos", Jobim reiterou que o Plano
Nacional de Defesa "não tem nada a ver" com a reativação da IV Frota
dos Estados Unidos no Atlântico Sul, nem com o acordo de Bogotá com
Washington que permitirá a utilização de até sete bases colombianas
por militares americanos.
"Nós só queremos nos capacitar para dizer 'não' quando tivermos a
necessidade de dizer 'não'", argumentou o ministro, após comentar a
enorme riqueza que o Brasil tem em matéria de alimentos, água
potável, hidrocarbonetos e energias alternativas.
Sobre a tensão regional com a Colômbia, Jobim afirmou que o tema
vai se solucionar, mas disse que é preciso ter "paciência e
tolerância". "É uma questão de tempo", acrescentou. EFE