SÃO PAULO (Reuters) - A taxa de câmbio real efetiva do Brasil terminou o primeiro trimestre com o menor desvio negativo em relação aos fundamentos desde pelo menos junho de 2020, segundo dados da FGV, mas esse desalinhamento deve ter piorado nos meses seguintes conforme o dólar voltou a ganhar terreno sobre o real em meio a ruídos fiscais domésticos e preocupações com a rota dos juros no mundo.
A média dos modelos indica que a taxa real de câmbio efetiva fechou março com desvalorização real de aproximadamente 7,7% em relação ao patamar sugerido pelos fundamentos.
Os fundamentos têm flutuado em torno de um mesmo nível desde 2019, pelo menos, segundo estimativas da FGV. Levando-se em conta um modelo que considera maior número de variáveis de fundamentos --um dos mais acompanhados pela FGV-- e a valorização da taxa nominal de câmbio nos três primeiros meses do ano, o desvio negativo da taxa efetiva chegou a cair para apenas 0,7%.
Entre os vários modelos, as estimativas de desalinhamento variaram entre -19,3% (real mais fraco que os fundamentos) e +6,2% (taxa de câmbio mais valorizada do que o sugerido pelos modelos), segundo carta do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV (FGV-EESP), em estudo liderado pelo coordenador Emerson Marçal.
"Mas o desalinhamento voltou a aumentar no segundo trimestre, muito provavelmente", disse Marçal em entrevista à Reuters. "Muita água passou por baixo da ponte desde março: questão fiscal, ICMS, pacote de bondades do governo, subida de juros nos Estados Unidos... são todos fatores que pressionam o câmbio. E o risco-Brasil voltou a subir", afirmou.
A taxa de câmbio real efetiva desvalorizou 4,61% no acumulado de maio e junho, segundo dados divulgados pelo Banco Central, tendo como deflator o IPA-DI. A queda veio depois de, no primeiro trimestre, a taxa real saltar 16,41%. A valorização se estendeu até abril, e no primeiro quadrimestre de 2022 o câmbio real disparou 21,88%.
Em 4 de abril, a taxa de câmbio nominal fechou em 4,6075 reais por dólar, menor valor desde o início de março de 2020, antes do estouro da pandemia de Covid-19.
"O que vai dominar o câmbio até o fim do ano basicamente é a dinâmica doméstica", disse Marçal, sem descartar, contudo, impacto potencial de surpresas externas, sobretudo do lado da política monetária norte-americana.
(Por José de Castro)