Idrissa Diakité.
Bamaco, 22 mar (EFE).- A crise no norte do Mali, afligido por atividades de rebeldes separatistas tuaregues e de membros da rede terrorista Al Qaeda, parece ter sido o fator detonante que levou um grupo de militares a aplicar um golpe de Estado contra o presidente Amadou Toumani Toure.
Após a confusão que se viveu durante a madrugada passada, ficou claro que os golpistas haviam assumido o controle do poder e tinham deposto Toure, a quem restava apenas um mês para concluir seu mandato constitucional.
Em um discurso na televisão estatal do Mali, o capitão Amadou Haya Sanogo, presidente do autoproclamado Comitê Nacional para o Restabelecimento da Democracia e a Restauração do Estado (CNRDRE), anunciou a suspensão da Constituição e de todas as instituições do país, a destituição do governo e o estabelecimento do toque de recolher a partir desta quinta-feira.
Posteriormente, os golpistas decidiram fechar as fronteiras e o espaço aéreo do Mali, medida que permanecerá em vigor pelo menos até a próxima terça-feira.
Os golpistas só fizeram um discurso transmitido em rede nacional de televisão após terem tomado definitivamente o controle do palácio presidencial, onde travaram fortes combates com as tropas leais a Toure, fatos que deixaram pelo menos 50 mortos, segundo fontes ligadas a trabalhos humanitários.
Por enquanto, se desconhece o paradeiro de Toure, que não se encontrava no palácio presidencial no momento da invasão, à qual seguiram saques e pilhagem.
Fontes ligadas aos rebeldes disseram à Agência Efe que pelo menos três ministros foram detidos pelos golpistas, entre eles, Soumeylou Boubeye Maiga (Relações Exteriores) e Kafougouna Kone (Administração Territorial). Eles foram levados ao quartel de Kati, a 15 quilômetros de Bamaco (onde começou o levante nesta quarta-feira).
Os golpistas justificaram sua ação com o argumento de que Toure tinha se revelado incapaz de solucionar ou administrar a crise no norte do país e o culparam por não ter equipado as Forças Armadas com os recursos necessários para enfrentar a rebelião separatista tuaregue nem os grupos vinculados à Al Qaeda.
Embora num primeiro momento tenha dado a impressão de que o movimento militar era um simples motim protagonizado por um grupo de soldados do quartel de Kati, que se recusavam a ser enviados ao norte, pouco a pouco foi possível perceber que o restante das forças de segurança, entre elas a Gendarmaria e a própria Guarda Presidencial, se somavam ao grupo golpista.
Desde meados de janeiro, os tuaregues do chamado Movimento Nacional para a Libertação de Azawad (MNLA) mantêm uma guerra aberta com as Forças Armadas malinesas, que sofreu dezenas de baixas e muitos de cujos soldados foram capturados pelos separatistas.
Ao mesmo tempo, os combates provocaram o deslocamento de aproximadamente 100 mil malineses, que buscaram refúgio nos países vizinhos como Argélia, Mauritânia, Níger e Burkina Fasso, enquanto outros 95 mil fugiram para outras regiões mais tranquilas dentro do Mali para escapar dos confrontos.
O MNLA reivindica a independência do Azawad, uma ampla região de 850 mil quilômetros quadrados, da qual já diz controlar 70%, segundo declarava na segunda-feira passada o chefe do Estado-Maior do movimento separatista, Mohammed Ag Najim.
Enquanto isso, o Mali, um dos países mais pobres da África, parece ter se imerso em uma grave crise política e institucional, apesar dos pedidos de calma feitos pelo capitão Sanogo em seu discurso, no qual sublinhou que o objetivo do movimento militar é "salvar a democracia".
Para abril, estavam convocadas eleições legislativas e presidenciais no Mali, que agora se encontram em uma situação muito incerta, pois ainda se desconhece quais decisões serão tomadas pelos golpistas a respeito.
Embora um dos principais partidos da oposição, Solidariedade Africana para a Democracia e a Independência (SADI), já tenha manifestado sua disposição a dialogar com os golpistas, a maior parte das forças políticas condenou o levante e o qualificou de "inconstitucional". EFE