Ramón Santaularia.
Copenhague, 6 dez (EFE).- Líderes políticos, cientistas,
analistas e dezenas de ONGs começam a disputar uma dura
queda-de-braço a partir de amanhã, quando tem início a cúpula de
Copenhague sobre a mudança climática.
A conferência, que vai tentar chegar a um acordo para limitar as
emissões dos gases causadores do efeito estufa, vai receber, até 18
de dezembro, 15.000 pessoas de 192 países, entre chefes de Estado e
de Governo, ministros, organizações ambientais e jornalistas.
O objetivo do encontro é dar uma resposta categórica à ameaça
global representada pela mudança climática e instituir no mundo
práticas e mecanismos para um crescimento sustentável.
Na prática, para limitar o aumento da temperatura a 2°C acima
dos valores da era pré-industrial, as nações desenvolvidas serão
convidadas a reduzir, até 2020, de 25% a 40% das emissões de
poluentes em relação aos níveis de 1990.
Com a industrialização, aumentou o volume de gases estufa na
atmosfera, sobretudo do dióxido de carbono, do metano e do óxido
nitroso, fundamentais para a vida na Terra e que impedem que parte
do calor solar retorne ao espaço.
Além disso, o nível do mar subiu, em média, de dez a 20
centímetros no século XX. Até 2100, a previsão é que aumente de nove
a 88 centímetros devido à elevação das temperaturas.
Consequentemente, a geleiras e calotas polares derreterão,
aumentando o volume da água nos oceanos.
Na pior das hipóteses, o mar poderá invadir litorais fortemente
povoados de países como Bangladesh, provocar o desaparecimento total
de algumas localidades, como as ilhas Maldivas, contaminar reservas
de água doce de bilhões de pessoas e provocar migrações em massa,
segundo a comunidade científica.
Embora haja diversas opiniões sobre as causas do aquecimento
global, muitos especialistas dizem que a principal razão do
aquecimento do planeta é a industrialização iniciada há século e
meio, e, em particular, a combustão de quantidades cada vez maiores
de petróleo e carvão, o desmatamento de florestas tropicais e
métodos pouco ortodoxos de exploração agrícola.
Apesar do otimismo de última hora, antes mesmo do começo da
conferência, o secretário-executivo da Convenção Marco das Nações
Unidas sobre Mudança Climática, Yvo de Boer, já previa só para junho
de 2010 o alcance de um acordo juridicamente vinculativo.
Isso significa que Copenhague estará repleta de vontade política
dos vários atores convidados para a cúpula, que terão que limar
inúmeras diferenças até conseguir colocar no papel um acordo para
substituir o Protocolo de Kioto, vigente para 37 países
industrializados até 2012.
Para que a cúpula na Dinamarca seja um sucesso, ONGs como o
Greenpeace pedem "um acordo justo, vinculativo e ambicioso, com o
compromisso dos países industrializados de reduzir as emissões em
40% até 2020 frente aos níveis de 1990". Outra meta dessas entidades
é acabar com o desmatamento das florestas tropicais nos próximos dez
anos.
No entanto, a enorme distância que há entre os países
industrializados e em desenvolvimento para frear o aquecimento
global e as negociações para uma redução das emissões de CO2 na
atmosfera são os principais obstáculos do encontro.
As somas multimilionárias que as nações ricas deveriam repassar
aos países pobres para minimizar as devastadoras consequências do
aquecimento global, cujos efeitos já são visíveis, foram rebaixadas
por De Boer e outros especialistas para US$ 10 bilhões ao ano.
O valor é "modesto", mas é um começo e um grande "sinal de
confiança" nos países emergentes, que não causaram os problemas da
mudança climática, disse à Efe o economista leonês Kandeh Yumkella,
diretor-geral da Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial (Onudi).
Por sua vez, as nações em desenvolvimento e emergentes, que serão
fundamentais nesta cúpula devido ao seu crescente apetite por
energia ao longo das próximas décadas, exigem cerca de US$ 400
bilhões até 2020 para se adaptarem à mudança climática.
A presença de aproximadamente cem chefes de Estado e de Governo,
incluindo os de Brasil, Estados Unidos e da União Europeia (UE), no
encerramento do encontro deverá ajudar os participantes a chegarem a
um acordo político final.
Neste contexto, o Governo dinamarquês considerou muito positiva a
participação do presidente dos EUA, Barack Obama. No entanto, a
contribuição do segundo país que mais polui no mundo deverá ser
modesta, já que Washington se comprometeu, em termo reais, a reduzir
as emissões apenas em 4% até 2020.
A China, que lidera o ranking das nações poluidoras, mostrará um
comprometimento bem maior, já que Pequim propôs reduzir entre 40% e
50% "a intensidade das emissões de CO2" até 2020, frente aos níveis
de 2005. EFE