Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu nesta sexta-feira "lealdade" ao presidente Michel Temer, mas já discute as bases do que seria um governo comandado por ele, em caso de afastamento do peemedebista.
Em conversas e declarações, Maia tem dito que manteria a equipe econômica e tentaria retomar a agenda de reformas, paralisada em meados de maio, quando a delação de executivos da JBS (SA:JBSS3) atingiu Temer e o levou a ser investigado e recentemente denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva.
Nesta manhã, Maia telefonou para o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS). Após consultar pessoas em suas bases eleitorais, o parlamentar havia mandado uma mensagem para Maia a fim de saber se ele iria manter a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Segundo Goergen, Maia ligou-lhe e, embora tenha deixado claro na conversa que não é presidente da República e não trabalha para sê-lo, afirmou que não faria mudanças nessa área caso assumisse.
"É importante sim que o presidente da Câmara dê essa sinalização, porque como a saída do Temer é um fato que pode ser real não podemos ficar na especulação do que pensa o sucessor", disse Goergen à Reuters. O deputado gaúcho ainda não decidiu se vai votar a favor de autorizar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar a denúncia contra Temer.
Também pela manhã, o presidente da Câmara usou uma rede social para defender "muita tranquilidade e prudência" no momento e o avanço na agenda de reformas no país. "Precisamos ter muita tranquilidade e prudência neste momento. Em vez de potencializar, precisamos ajudar o Brasil a sair da crise", disse, no Twitter.
Maia disse que a agenda de votações da Câmara tem de ser retomada "o mais rápido possível". "Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos previdência, tributária e mudanças na legislação de segurança pública", afirmou Maia.
Embora venha sempre pregando uma atuação de magistrado no caso da denúncia de Temer, o presidente da Câmara tem se movimentado nos bastidores como fiador da agenda reformista. Temer será afastado se a Câmara autorizar a análise do STF e os ministros do Supremo aceitarem a acusação criminal contra ele por corrupção passiva.
A avaliação de aliados é que Maia também teria mais força política para tocar, por exemplo, uma reforma da Previdência do que Temer no momento em que a principal pauta do atual governo é sobreviver politicamente. Essa percepção viria ancorada diante do fato de ele estar recebendo apoios públicos de importantes lideranças partidárias nos últimos dias.
Nesta sexta, o ex-líder do PMDB no Senado Renan Calheiros (AL) afirmou à Reuters que o governo Temer tem uma rejeição "quase universal" e que Maia é a saída constitucional para buscar sair da crise política.
"O governo tem uma rejeição quase que universal. A sociedade quer se ver livre do governo de qualquer forma, por isso nós não podemos deixar de olhar a saída constitucional. Rodrigo Maia, ele é a saída constitucional e nada mais recomendável olhar para ela", afirmou Renan.
Na véspera, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que o deputado tem todas as condições para levar o país a uma mínima estabilidade até 2018 e afirmou --sem citar o governo Temer-- que o Brasil está chegando a uma ingovernabilidade.
Nesta sexta, o primeiro vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que se pode estar diante do início do fim do governo Temer, que não tem nenhum apoio popular e que Maia é a solução prevista na Constituição.
SEM CONSPIRAÇÃO
Lideranças do DEM têm ecoado que o partido não vai "conspirar" para derrubar o governo.
Um dos vice-líderes do DEM na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), disse que o partido continua a apoiar a gestão Temer. Mas ressaltou que, se eventualmente houver uma gestão Maia, interina, a tendência seria sim de manter a equipe econômica e buscar a retomada das votações.
"Todo mundo na expectativa que não haja mudança na forma de atuação", disse Aleluia, um dos mais experientes deputados do partido.
O presidente da legenda, senador Agripino Maia (RN), também destacou que a posição de Rodrigo Maia é de "absoluta lealdade" com o governo, mas observou que o deputado "acompanha a situação".
"Ele vai agir de acordo com as obrigações do cargo que ocupa, não vai cometer deslealdade com ninguém, nem sair do que prevê a Constituição e o regimento interno da Câmara", disse o presidente do partido, que destacou que não há qualquer reunião da Executiva da legenda para decidir uma posição a respeito do governo Temer.
Em Hamburgo, onde está participando da cúpula do G20, Temer disse acreditar "plenamente" na lealdade de Maia. "Ele só me dá provas de lealdade o tempo todo", disse o presidente.
O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SA:RSID3) (SP), minimizou esses movimentos em relação ao presidente da Câmara, a quem atribui a aliados dele. "O Rodrigo tem sido correto, leal e claro que às vezes o entorno fica na torcida", afirmou ele, ao destacar que não vê nenhuma conspiração por parte do deputado do DEM.
Rossi rebateu as alegações de que o governo estaria se enfraquecendo, e disse que, ao contrário, fortaleceu-se nos dois últimos dias com as articulações políticas em busca de votos para barrar na Câmara a autorização ao STF para julgar Temer tanto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) quanto no plenário da Câmara.
Destacou ainda que, após derrotar no voto a acusação, o governo vai reforçar os esforços para buscar a retomada do emprego e a agenda de reformas.
A oposição, minoritária na Câmara, votará a favor do julgamento de Temer pelo STF. Contudo, o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), disse que isso não significa automaticamente que haverá apoio a Maia, uma vez que ele defende a mesma agenda reformista.
"Temer não pode continuar no governo com esse tipo de denúncia contra ele, mas nós não temos nenhum compromisso de apoiar o governo do Maia", disse o petista.