Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia ligeiramente frente ao real nesta sexta-feira e ficava a caminho de forte avanço semanal, em linha com um salto recente da divisa norte-americana no exterior, em meio a temores econômicos generalizados diante de sinalizações mais duras de autoridades do banco central dos Estados Unidos.
Às 10:55 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,67%, a 5,2020 reais na venda, e chegou a tocar os 5,2153 reais mais cedo (+0,84%), a caminho de registrar seu quinto pregão consecutivo de valorização.
As altas do dólar contra o real tanto no dia quanto na semana igualavam o desempenho do índice da moeda norte-americana frente a uma cesta de rivais fortes, que subia 0,4% nesta sexta-feira e estava a caminho de registrar seu maior ganho semanal desde abril de 2020.
Um dos principais motores da valorização global do dólar nesta última semana tem sido o fortalecimento das apostas num aumento de juro de 0,75 ponto percentual pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, em sua próxima reunião de política monetária, disse à Reuters Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Várias autoridades do Fed disseram na quinta-feira que a instituição precisa continuar elevando os custos dos empréstimos para controlar a inflação, mesmo em meio a temores crescentes de que um aperto monetário intenso demais derrube a maior economia do mundo numa recessão. Num geral, participantes do mercado tendem a reforçar a busca por dólares quando o banco central dos EUA oferece sinalizações mais duras sobre seu combate à alta dos preços.
Num contexto de foco intenso no Fed, investidores devem ficar atentos à conferência anual global de bancos centrais de Jackson Hole, Wyoming, na semana que vem. O chair do banco central norte-americano, Jerome Powell, discursará no evento na próxima sexta-feira, e pode fornecer pistas sobre o futuro da política monetária.
Colaborando para um sentimento comedido nesta sexta-feira, Cruz destacou preocupações sobre a economia europeia, depois que dados mostraram salto recorde dos preços ao produtor alemão em julho, e temores sobre a atividade da China, conforme a indústria do país asiático é atrapalhada por ondas de calor extremo.
Na cena local, o estrategista chamou a atenção para notícias "mistas" no que diz respeito à corrida eleitoral.
Ele avalia que o mercado não vê uma diferença tão grande entre um desfecho de vitória do atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e resultado em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta a comandar o Planalto, mas acredita que um cenário de definição do pleito no segundo turno, em vez de já no primeiro, seria visto de forma mais benigna, uma vez que forçaria ambos os principais concorrentes a moderar seus discursos e se aproximar do centrão.
Em meio ao cenário externo adverso e à corrida eleitoral local, Cruz disse que, mais do que tentar prever altas ou baixas do dólar daqui para a frente, "a melhor operação para mim agora é tentar ganhar com a volatilidade", que deve permanecer elevada pelos próximos meses.
Uma medida da volatilidade implícita do real para os próximos três meses tem rondado seus maiores níveis desde meados de 2020 nos últimos dias.