Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou a segunda-feira em queda ante o real, retornando para abaixo dos 5,60 reais, após reportagem da Reuters informar que o governo Lula se prepara para apresentar medidas de contenção de gastos depois das eleições municipais.
O recuo no Brasil ocorreu a despeito de, no exterior, a moeda norte-americana estar em alta ante a maioria das demais divisas.
O dólar à vista fechou em baixa de 0,59%, cotado a 5,5827 reais. Em outubro, porém, a divisa acumula alta de 2,45%.
Às 17h26, na B3 (BVMF:B3SA3) o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,28%, a 5,600 reais na venda.
Pela manhã o dólar chegou a oscilar em alta ante o real em linha com o avanço visto no exterior, em meio à percepção de que o Federal Reserve cortará os juros em 25 pontos-base em novembro, e não em 50 pontos-base.
O real também era pressionado após o Ministério das Finanças da China prometer no sábado "elevar significativamente" a dívida do país para impulsionar a economia, mas sem informar o tamanho total do estímulo, o que decepcionou os agentes financeiros. A China é um dos maiores compradores do mundo de minério de ferro e soja -- dois dos principais produtos de exportação do Brasil.
Neste cenário, o dólar à vista atingiu a cotação máxima do pregão, de 5,6530 reais (+0,67%), às 9h38, ainda na primeira hora de negócios.
A moeda norte-americana perdeu força e migrou para o território negativo no Brasil ainda pela manhã, na esteira de comentários do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que reforçou o compromisso da autarquia com a meta de inflação de 3%.
Em sua primeira fala pública após ter tido sua indicação para assumir a presidência do BC em 2025 aprovada pelo Senado, Galípolo também reiterou que a desancoragem das expectativas segue preocupando.
"A taxa de juros básica aqui está se movendo basicamente observando o que está acontecendo do ponto de vista da atividade e olhando para as projeções da inflação dentro do horizonte relevante", disse, em evento promovido pelo Itaú BBA.
Galípolo afirmou ainda que o BC não persegue um nível de câmbio e atua no mercado apenas em casos de falta de liquidez ou excesso de volatilidade.
Tanto o dólar quanto as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) perderam força após os comentários de Galípolo, mas o principal gatilho do dia surgiu no início da tarde, em matéria da Reuters informando que o governo prepara medidas de contenção de gastos obrigatórios. As medidas devem ser apresentadas após a realização do segundo turno das eleições municipais, no fim deste mês.
Um primeiro pacote buscará tratar pontualmente de gastos específicos, iniciativa que deve ser acompanhada de um segundo eixo com propostas mais estruturais e “mais duras”.
“O que elevou o dólar até a última sexta-feira foi a preocupação com o fiscal. Então hoje, com esta notícia, o mercado aproveitou para realizar lucros”, comentou à tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
“Com o governo falando em cortar gastos, o mercado realizou e o dólar caiu, em total descompasso com o exterior”, acrescentou.
No melhor momento da sessão, às 14h47, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de 5,5654 reais (-0,89%). Até o encerramento a moeda recuperou um pouco de fôlego, mas ainda assim terminou em baixa ante o real, na contramão do exterior.
Às 17h21 o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,15%, a 103,190.
Pela manhã, também no evento do Itaú BBA, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo ainda está na etapa de análise para elaboração do projeto de reforma do Imposto de Renda, com estudos que incluem avaliação sobre a eficácia das deduções atuais, além da análise de modelos internacionais de tributação de dividendos.
Já o Banco Central informou que o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), considerado um sinalizador do PIB, avançou 0,2% em agosto sobre o mês anterior, em dado dessazonalizado. A leitura foi melhor do que a expectativa de estabilidade em pesquisa da Reuters, marcando uma retomada ante a queda de 0,6% de julho, em dado revisado.
No fim da manhã, o BC vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.