Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar devolveu perdas iniciais nesta terça-feira, mas continuava próximo de mínimas em 11 semanas à medida que o mercado de câmbio doméstico era beneficiado por perspectivas de fluxo em meio a juros atraentes, mesmo com receios internacionais sobre uma possível recessão global ainda no radar de investidores.
Às 10:21 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,39%, a 5,0527 reais na venda, recuperando fôlego depois de mais cedo ter chegado a cair 0,50%, a 5,0080 reais, nível que não era visto desde o dia 13 de junho passado.
Alguns participantes do mercado alertavam para a possibilidade de volatilidade neste pregão devido à aproximação da formação da taxa Ptax de agosto, que acontecerá na quarta-feira.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente eleva a instabilidade.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:21 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,42%, a 5,0545 reais, também afastado dos menores patamares do dia.
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Parte da recuperação do dólar neste pregão foi atribuída por operadores a uma desaceleração da valorização de ativos arriscados no exterior. Nesta manhã, as bolsas europeias operavam bem distantes das máximas do pregão, enquanto o índice do dólar contra uma cesta de seis pares fortes devolveu perdas iniciais e passava a alternar estabilidade e leve alta.
O sentimento do mercado financeiro global sofreu um baque nos últimos dias, na esteira de comentários agressivos de autoridades de grandes bancos centrais, que reforçaram a perspectiva de adoção de altas de juros superdimensionadas nas próximas reuniões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central Europeu (BCE), mesmo em meio a riscos crescentes de recessão.
Apesar do sentimento arisco lá fora e da recuperação do dólar frente ao real nesta manhã, o mercado de câmbio doméstico ainda tem se saído bem recentemente, e a moeda norte-americana encerrou o último pregão em queda de 0,91%, a 5,033 reais na venda, menor valor para um encerramento de sessão desde 15 de junho (5,0278 reais).
"Esse movimento de queda coincidiu com dados super positivos que tivemos de inflação, que trouxeram algum alento para o Banco Central", disse à Reuters Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital. O IBGE informou na semana passada que o IPCA-15 registrou em agosto a maior deflação em quase 31 anos, de 0,73%.
A manutenção da taxa Selic, atualmente em 13,75%, num patamar elevado, combinada a sinais de desaceleração pontual da inflação no Brasil, aponta para uma taxa de juros real muito atraente, explicou Argenta, o que tende a redirecionar recursos para o mercado local e beneficiar o real.
Além disso, "o Brasil saiu da (pandemia de) Covid em muito melhor forma do que a maioria dos mercados emergentes, com uma balança comercial que saltou para um grande superávit", disse em publicação no Twitter Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF).
"Essa é a razão básica pela qual nosso valor justo (para o real) permaneceu em 4,50 por dólar pelos últimos dois anos", acrescentou, referindo-se ao patamar cambial considerado condizente com os fundamentos macroeconômicos do país.
Com o cenário doméstico favorável ofuscando, pelo menos por ora, um ambiente externo incerto e cada vez mais pessimista, Argenta, da CM Capital, disse acreditar que o dólar possa ir abaixo dos 5 reais num curtíssimo prazo.
No entanto, ela não descartou uma mudança de tendência num horizonte maior, já que o recente alívio inflacionário no Brasil provavelmente será temporário e o país ainda enfrenta incertezas fiscais. "Se fosse para colocar um sentido para o dólar daqui até o final do ano, esse sentido seria para cima."