Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparava nesta quinta-feira e chegou a ser negociado bem acima da marca psicológica de 5,50 reais, em resposta à proposta do governo eleito de excepcionalizar do teto de gastos 175 bilhões de reais para o pagamento do Bolsa Família e às declarações de Luiz Inácio Lula da Silva sobre a reação dos mercados a medidas de flexibilização fiscal.
Às 10:10 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,67%, a 5,4724 reais na venda. Mais cedo, a moeda norte-americana chegou a disparar 2,76%, a 5,5308 reais na venda, pico desde janeiro deste ano, e operando acima de 5,50 pela primeira vez desde julho.
Embora tenha moderado as perdas desde então, o real continuava sendo uma das moedas de pior desempenho no dia entre seus pares globais.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,30%, a 5,4890 reais.
A minuta da PEC da Transição apresentada na véspera pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, traz proposta de "excepcionalizar" do teto de gastos 175 bilhões de reais para o pagamento do Bolsa Família a partir de 2023 no valor de 600 reais, com adicional de 150 reais por criança, sem um prazo determinado, confirmando temores de agentes do mercado.
Agravando o desconforto de investidores, Lula voltou a criticar nesta quinta-feira a regra do teto de gastos e desdenhou das reações do mercado financeiro a suas falas.
"Ah, mas se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência. Porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia", disse o presidente eleito durante discurso no Egito, onde participa da COP27.
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"A PEC tem sido o principal motor do descolamento do mercado local do exterior, em meio à tentativa do governo eleito de inchar cada vez mais a peça, elevando o custo de transição e demandando um 'waiver' (licença para gastar) quase infinito para este mandato", escreveu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
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"O formato não é bom, foge daquilo que muitos que votaram pela troca do mandato esperavam, pois se vendia um governo 'pragmático', coisa que aparentemente não está ocorrendo, especialmente na comparação com o mandato de 2002 (de Lula)."
Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, também citou desconforto de investidores com o desenho da PEC. "O mercado não vai ser contra fazer alguma coisa social, só que tem que ter alguma contrapartida", avaliou ele. "Esse (plano) é de quase duzentos bilhões e não deram um prazo, fica parecendo que vai ser uma coisa eterna."
Segundo Wakabayashi, "enquanto o governo não der pelo menos um sinal de quanto tempo vai durar, acho que a gente vai continuar sendo pressionado em dólar, não tem como".
O temor de investidores também envolve o fato de que Lula ainda não definiu quem será seu ministro da Fazenda. Três fontes disseram à Reuters na quarta-feira que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad está sendo visto como o favorito do presidente eleito para comandar o Ministério da Fazenda.
"A gente não tem uma imagem forte de que vamos ter um ministro da Economia que vai tentar trazer isso (flexibilização fiscal) para uma coisa mais estável, com data para acabar, então são coisas que se somam", afirmou Wakabayashi.
Respaldava o salto do dólar frente ao real nesta quinta-feira o avanço do índice que compara a divisa norte-americana a uma cesta de seis pares fortes, que ganhava mais de 0,6% no dia em meio a temores de que a resiliência da economia dos EUA impeça o Federal Reserve de moderar seu aperto monetário.