Investir em ações definitivamente não é uma ciência exata, tampouco se encaixa na categoria de arte pura (apesar de que a cada dia que passa eu me convenço que está bem mais próximo de arte do que ciência exata). Gosto de definir a linha de raciocínio que considero adequada para avaliar a compra de ações de uma determinada empresa isoladamente como sendo uma tentativa de equilibrar: i) a compreensão profunda de virtudes qualitativas de uma empresa, que abrangem as características técnicas e éticas das pessoas que tomam as decisões, os valores e alinhamentos de longo prazo entre conselho/diretoria da empresa e os acionistas (governança), retrospecto de execução e de alocação de capital, perspectivas de expansão de lucros de forma consistente e num horizonte longo, perenidade do segmento de atuação, capacidade disruptiva da companhia e, principalmente, vantagens competitivas de longo prazo que blindam a empresa de ser engolida por competidores que podem ainda nem existir; com ii) o que chamo de “bom senso quantitativo”, que por sua vez implica nas ações negociarem a um múltiplo plausível e na empresa apresentar solidez financeira, ou seja, índices de endividamento equilibrados e risco de solvência controlado.
Perceba que a extensão e complexidade dos aspectos que contam a história da empresa são significativamente maiores do que os que se referem aos números da companhia. Nunca se esqueça que, no limite, você está virando sócio da empresa.
Acertar se a empresa será ou não vencedora é mais determinante no resultado do seu investimento do que comprar barato ou caro. O tal do “valuation” nada mais é do que essa ponte entre histórias e números e é por isso que essa habilidade não pode ser encarada como uma ciência nem como uma arte de forma isolada.
Realizar bons investimentos no mercado de ações pode ser traduzido para “encontrar histórias vencedoras, que não estejam exageradamente precificadas nos múltiplos atuais e que não devem ser destruídas pela competição ou por endividamento excessivo”.
Existem basicamente três motivos que transformam histórias vencedoras em perdedoras: i) competição; ii) dívida e iii) fraude. É muito difícil perder dinheiro comprando ações de uma empresa que apresenta vantagens competitivas fortes para conseguir expandir seus lucros de forma consistente ao longo dos anos, que é gerida pelas pessoas corretas e com responsabilidade financeira e que está inserida num ramo promissor.
A única forma de se fazer um mal investimento que respeite a essas condições é esquecendo que o valuation precisa ser plausível. Ou seja, precisa ser minimamente crível. Por isso, gosto de classificar essa parcela como “bom senso quantitativo”. De nada adianta se tornar sócio de uma padaria de bairro extremamente lucrativa se a mesma já estiver valendo bilhões ou se possuir bilhões em dívidas.
Um ponto importante é que, em nenhum momento, exigiremos que uma história vencedora esteja “super barata”. Não se engane: a chance de só você ter encontrado uma bela história é bem menor do que a chance ter esquecido de considerar algum aspecto relevante na hora de imaginar a trajetória daquela empresa.
Se os números parecem exageradamente atrativos por um longo período, é quase certo que a história não vai bem. Lembre-se que uma “ponte” não fica de pé sem que os dois extremos estejam firmes.
Até aqui, falamos das variáveis a serem levadas em consideração na análise de ativos de forma isolada. Mas, então, como devemos montar um portfólio de ações?
Costumo dizer que um bom portfólio composto por dez ações deve ser bem diferente de um ranking das dez ações “preferidas” de um alocador de recursos. É necessário compreender a correlação entre as diferentes ações e, especialmente, a que riscos em comum as empresas do portfólio estão expostas. Mesmo que um investidor acredite que 7 das 10 melhores empresas do mundo são do segmento de Tecnologia e Inteligência Artificial, seria tolice concentrar 70% do portfólio ao risco de uma mesma tese, por melhor que ela pareça ser.
Isso se deve ao fato de que, boa parte dos resultados determinantes para o sucesso ou a ruína de uma empresa no longo prazo dependerem de fatores literalmente impossíveis de serem previstos ou antecipados pelo mercado. Caso contrário, não existiriam tantos casos de empresas que multiplicaram seus valores de mercado em poucos anos e nem tantos casos de empresas gigantescas de décadas atrás que simplesmente desapareceram, como Blockbuster, Kodak, Xerox, Nokia (HE:NOKIA), Blackberry, Toshiba (TYO:6502) etc. A diversificação é o único remédio contra o imponderável.
Bom, mas como fazemos o manejo de um portfólio depois de “pronto”? É aqui que entra a parte mais difícil e, não coincidentemente, a mais subvalorizada pelos investidores médios: a psicologia (ou “finanças comportamentais”, como é referida na literatura).
Literalmente todos os investidores, dos mais inexperientes até o Warren Buffet, sentem desconforto ao assistir seus investimentos se desvalorizarem e questionam suas convicções nestes momentos. “Se eu estou certo, por que todos estão vendendo? Será que o mercado sabe de algo que eu não sei? Será que fui muito otimista nas minhas considerações? Será que o melhor timing para comprar não é daqui a algum tempo? O que diz o gráfico? O que dizem os outros analistas? E se eu reduzir um pouco a posição para estudar melhor e poder dormir em paz?”. Acreditem: todos pensam e sentem o mesmo quando passamos por quedas bruscas.
A única diferença comportamental é que o profissional e experiente entende a naturalidade desses pensamentos e consegue engolir seco as “vozes” que o levariam a tomar decisões impulsivas.
Lembre-se: o mercado (na verdade, é a sua cabeça) irá te convencer de vender seus ativos em queda se você não pensar na possibilidade desse cenário acontecer antes de montar suas posições. Você será seduzido a vender seus ativos em queda, especialmente nos mementos de Selic de dois dígitos, cenário fiscal sem horizonte de melhora, menor apetite do estrangeiro por ações de empresas brasileiras, ofertas de renda fixa com rentabilidade de IPCA + 7% isentas de imposto e completo desinteresse dos investidores pela bolsa de valores.
Bom, voltando ao tema principal – que é título deste artigo – o que mata o investidor na bolsa?
Resumindo um pouco do que falamos até aqui, segue uma lista dos principais e mais comuns erros dos investidores ao investir em ações:
- Falta de diversificação (subestimar o risco do imponderável).
- Selecionar ativos dando exagerada importância para o que está mais barato e não para histórias vencedoras (encarar o mercado como uma ciência exata).
- Comprar histórias a preços estratosféricos (não avaliar a plausibilidade de um valuation em meio a uma bela história)
- Imediatismo e falta de controle emocional no manejo das posições (finanças comportamentais).