Lucro do BB tomba 60% no 2º tri; banco reduz payout para 30%
SÃO PAULO (Reuters) -O Banco do Brasil reportou nesta quinta-feira lucro líquido ajustado de R$3,784 bilhões no segundo trimestre, tombo de 60% ano a ano, novamente pressionado pelo agronegócio, bem como estimou um lucro menor para o ano e cortou o percentual do resultado a ser distribuído a acionistas.
"O ano de 2025 é de ajuste para aceleração do crescimento", afirmou a presidente do BB, Tarciana Medeiros, em nota à imprensa após a divulgação do balanço do segundo trimestre.
O BB agora estima um lucro líquido ajustado entre R$21 bilhões e R$25 bilhões em 2025. Antes de suspender algumas previsões em maio, projetava entre R$37 bilhões e R$41 bilhões. Mesmo no teto da faixa, a nova previsão ficou abaixo da média das expectativas compiladas pela LSEG, de R$26,757 bilhões.
Para o segundo trimestre, as projeções apontavam lucro de R$5 bilhões, segundo a LSEG.
Em relação ao payout para 2025, cortou o percentual para 30% versus entre 40% e 45% anteriormente. O BB explicou a decisão citando os resultados, a necessidade de caixa, projeções de capital, perspectivas dos mercados de atuação, a manutenção e expansão da capacidade operacional, entre outras razões.
O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) no segundo trimestre desabou a 8,4%, de 16,7% nos primeiros meses do ano e 21,6% um ano antes. Para efeito de comparação, Itaú Unibanco teve ROE de 23,3%, enquanto Santander Brasil registrou 16,4% e Bradesco marcou 14,6%.
Investidores aguardavam com ansiedade pela divulgação dos números do segundo trimestre, após o resultado do primeiro trimestre, apresentado em meados de maio, ser "pior do que se temia", como escreveram analistas do BTG Pactual após os dados.
Nos primeiros três meses do ano, o BB mostrou um resultado bem aquém das previsões no mercado, com lucro líquido ajustado de R$7,37 bilhões, pressionado pelo agravamento da inadimplência de parte da carteira de agronegócios e novas regras contábeis.
No primeiro pregão após a divulgação daquele balanço, as ações chegaram a desabar quase 15% no pior momento. Desde então, em meio a revisões de perspectivas para o banco pelo mercado e novos ruídos envolvendo números do Banco Central sobre o setor, os papéis acumularam uma perda de mais de 30%.
AGRO
No segundo trimestre, o custo do crédito do BB, formado pelas despesas de perda esperada somada aos descontos concedidos e deduzidas das receitas com recuperação de crédito, alcançou R$ 15,9 bilhões, de R$10,15 bilhões nos primeiros três meses do ano e de R$7,8 bilhões um ano antes.
Para o ano, o banco calcula o custo na faixa de R$53 bilhões a R$56 bilhões.
De acordo com o banco, a linha foi influenciada, principalmente, pela continuidade da dinâmica agravada da carteira de agronegócios, cuja inadimplência alcançou 3,49%, de 3,04% três meses antes e 1,32% em junho de 2024.
A carteira de crédito encolheu 0,3% na base trimestral, a R$404,9 bilhões. Ano a ano, subiu 8%
"Apesar do cenário positivo para a safra no Brasil em 2025, com uma colheita recorde, e do elevado percentual de garantias nessa carteira, há um estoque de operações que não foram pagos na safra 2024/2025, inclusive, por conta das recuperações judiciais no setor – que exigem maior provisionamento sob a nova regulação", afirmou o BB no material de divulgação do balanço.
A inadimplência acima de 90 dias da carteira de crédito como um todo atingiu 4,21%, de 3,86% no trimestre anterior e 3% um ano antes. Na pessoa física, esse percentual subiu de 5,10% para 5,59% entre março e junho deste ano, enquanto na pessoa jurídica passou de 4,06% para 4,18%.
A carteira de crédito expandida do BB cresceu 11,2% ano a ano e 1,3% na base trimestral, para R$1,29 trilhão. O portfólio de pessoa física mostrou acréscimo de 8% ano a ano e de 2% no trimestre e o de pessoa jurídica registrou incremento de 14,7% e 1,8%, respectivamente.
Para o ano, o BB calcula expansão entre 3% e 6% na sua carteira de crédito, ante intervalo de crescimento de 5,5% e 9,5% estimado anteriormente.
A margem financeira bruta somou R$25,06 bilhões, declínio de 1,9% ano a ano, mas alta de 4,9% na comparação trimestral, com o banco citando crescimento de das receitas financeiras (+7,6% em operações de crédito e 13,9% em tesouraria), que mais do que compensou a elevação de 11,9% nas despesas financeiras.
Ao final do segundo trimestre, o BB tinha índice de Capital Nível I de 13,27%, índice de Capital Principal de 10,97% e índice de Basileia de 14,14%.
(Por Paula Arend Laier, com reportagem adicional de Andre RomaniEdição de Patrícia Vilas Boas e Alexandre Caverni)