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Ao longo da história econômica do Brasil, há um padrão que se repete: quando a economia vai bem, o presidente vai bem; quando a economia vai mal, o presidente vai mal. É simples – e implacável. E quando falo de economia, não me refiro a PIB, câmbio ou reservas internacionais, mas sim à economia real: aquela que chega ao bolso de quem está no supermercado, pagando a conta de luz ou decidindo se vai comprar carne ou frango no mês.
O passado rima
A década de 80 é a lembrança mais dolorosa disso. A década perdida não foi apenas um período de hiperinflação – foi uma máquina de moer poder de compra. O salário evaporava antes do fim do mês, e quem tinha patrimônio conseguia se proteger; quem vivia de salário fixo, mal sobrevivia financeiramente. E essa é a primeira lição: a inflação não é neutra. Ela pune mais duramente o pobre e sorrateiramente quem não tem ativos para se defender.
Mais de 15 anos atendendo investidores me mostraram que, quando aumenta a sensação de perda de poder de compra, a população já está atrasada na reação. O roteiro é previsível: um governo aumenta o gasto público, a economia dá sinais positivos no curto prazo… mas a conta chega. E quando ela chega, não é o dólar que preocupa o pai ou a mãe de família – é o preço da conta de luz, da carne, do aluguel.
Poço tem alçapão?
E hoje, essa conta chegou. O endividamento das famílias brasileiras está no maior nível da história. A inflação oficial (IPCA) aponta um número; a inflação percebida, aquela que sentimos no carrinho do supermercado, aponta outro – e mais alto. A diferença é que a oficial é divulgada em coletiva de imprensa; a percebida bate no bolso todos os dias.
É aqui que a conversa muda de tom. Porque, se para quem tem renda alta um aumento de 30% na conta de luz é apenas um incômodo, para quem ganha pouco é um corte direto no lazer, na alimentação ou na possibilidade de poupar. Essa é a realidade que empobrece aquele que já vive no limite e escancara a necessidade de se proteger contra a inflação.
E, como consultora independente de investimentos, é exatamente nesse ponto que eu insisto: proteger o patrimônio contra a corrosão inflacionária não é uma decisão opcional – é a diferença entre manter o padrão de vida ou vê-lo encolher silenciosamente.
Na prática
A boa notícia é que existem instrumentos para isso. Ativos indexados ao IPCA, como o Tesouro IPCA+, oferecem uma taxa de juros real acrescida da variação da inflação, preservando (e potencialmente aumentando) o poder de compra ao longo do tempo. Para quem busca diversificação e benefícios fiscais, fundos de infraestrutura que investem em debêntures incentivadas atreladas ao IPCA são alternativas interessantes – além da proteção inflacionária, podem oferecer isenção de imposto de renda para pessoa física.
Em tempos de inflação alta e incerteza econômica, esses ativos não são apenas investimentos: são mecanismos de defesa. E ignorá-los é assumir o risco de ver seu dinheiro trabalhar contra você.
A lição é simples – seja você um investidor experiente ou alguém que está apenas começando, mantenha sempre uma parcela estratégica da sua carteira protegida pela inflação. Mesmo que a sua inflação percebida – ou inflação pessoal – supere o rendimento dos títulos IPCA+, essa proteção ainda cumpre um papel essencial: preservar o poder de compra ao longo do tempo. Porque, no fim das contas, o que realmente importa não é o saldo que aparece na sua conta de investimentos, mas o quanto esse dinheiro será capaz de comprar daqui a 5, 10 ou 20 anos. E, quando se trata de enfrentar a inflação, toda ajuda conta.