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A fusão entre Marfrig e BRF marcou a criação de um novo gigante global de proteínas, com a estreia da MBRF3 na B3 em setembro simbolizando não apenas a união de duas potências do setor, mas a consolidação de um modelo integrado capaz de rivalizar com concorrentes internacionais. Com uma receita anual combinada próxima de R$ 160 bilhões e um portfólio que mescla carne bovina, suína, frango e processados — hoje já responsáveis por 38% das vendas — a nova empresa herda marcas consagradas como Sadia, Perdigão e Bassi, fortalecendo presença em 117 países e ganhando vantagem competitiva tanto no varejo quanto no food service.
No entanto, a consolidação traz também desafios imediatos, sobretudo no campo regulatório e concorrencial. A tentativa de desinvestir ativos no Uruguai para a Minerva (BVMF:BEEF3) fracassou pela segunda vez após nova negativa do órgão antitruste local, reabrindo disputas contratuais entre as companhias e colocando em xeque parte do plano de racionalização na América do Sul. Paralelamente, a compra de 50% da Gelprime por R$ 312,5 milhões indica que a MBRF não pretende desacelerar sua agenda de aquisições e diversificação, ampliando presença em categorias de maior valor agregado como colágeno e gelatina. O ponto central agora será entender se a empresa conseguirá capturar sinergias sem perder agilidade e se o novo conglomerado será um case de escala eficiente ou de complexidade excessiva.
- Riscos: Forte alavancagem, integração complexa, volatilidade de commodities e exposição a mercados globais.
- Oportunidades: Ganhos de escala, sinergias operacionais, portfólio diversificado e potencial de expansão de margens.
Utilizando as ferramentas avançadas da assinatura InvestingPro, vamos analisar a nova gigante de proteínas.
O cálculo de preço-justo do InvestingPro avalia a cotação atual da MBRF3 como justa: há um potencial de valorização bem pequeno, de 6,4% para os próximos 12 a 18 meses, segundo 12 modelos de valuation. Os modelos divergem entre si, com o mais pessimista (Fluxo de Caixa Descontado de 10 anos com saída pelo Crescimento) apontando possível queda de -23% e o mais otimista (Fluxo de Caixa Descontado de 5 anos com saída pela Receita) acreditando em upside de 62%. A média do preço-alvo de 13 analistas se aproxima do otimismo, no entanto: há potencial de alta de 58% para o mercado.
Se a calculadora de preço-justo do InvestingPro acredita que a ação está na média, o mesmo pode se dizer da pontuação de Saúde Financeira. Com 2,76 (C), a MBRF está praticamente na média das empresas globais, que é de 2,75. Ao menos ainda é um pouco acima da média do setor, que é de 2,68. Entre as cinco categorias, a melhor é a de Valor Relativo (3,88), mostrando que o valuation da nova empresa ainda tem espaço para crescimento. Entre os destaques estão indicadores como Preço/Fluxo de Caixa Operacional de 0,7x, Preço/Fluxo de Caixa Livre de 0,8x, Rendimento do FCL de 118,6%, EV/Ebitda de 6,4x e P/L de 8,1x.
Já as ProTips, presentes na página da empresa dentro do InvestingPro, apontam oito destaques positivos, seis negativos e um neutro. Entre os positivos, pode-se destacar o Shareholder Yield de 7,4% e a recompra de ações por parte da gestão com Buyback Yield de 19,5%. Já os negativos apontam a Margem Bruta baixa de 12,8% e o P/VPA alto de 4,6x.
Por fim, utilizando o WarrenAI é possível solicitar uma análise SWOT sobre a nova empresa após a fusão para entender os cenários daqui em diante.
Forças
- Portfólio completo: Agora líder em carne bovina, suína e de aves, com 38% do mix em processados — protege contra choques de uma só commodity.
- Presença global e marcas fortes: Sadia, Perdigão, Qualy, Bassi, Banvit e atuação em 117 países.
- Sinergias estimadas em R$ 805 milhões (R$ 400-500 mi só no 1º ano): potencial para ganhos operacionais relevantes.
- Maior eficiência operacional: BRF já vinha entregando margens e crescimento robustos, enquanto a Marfrig traz expertise em integração e exportação.
Fraquezas
- Alavancagem extrema: Antes da fusão, Marfrig operava com Dívida/Patrimônio Líquido acima de 2.300% e BRF em 147%. Mesmo com geração de caixa, o endividamento combinado é o maior risco.
- Margens ainda baixas na Marfrig standalone: Margem líquida de apenas 1,8%, muito abaixo dos 5,6% da BRF.
- Integração complexa: Unir culturas, sistemas e gestão de duas gigantes exige execução cirúrgica—qualquer desvio pode custar caro.
Oportunidades
- Sinergias rápidas: R$ 400-500 milhões já nos primeiros 12 meses, principalmente em compras, logística e overhead.
- Expansão internacional: Força para avançar em mercados de maior valor agregado, aproveitando marcas e escala.
- Redução de custos: BRF projeta queda de 2% nos custos de ração animal no 2º semestre de 2025, abrindo espaço para margens melhores.
Ameaças
- Dívida e juros: Ambiente de juros elevados pode pressionar o caixa e limitar investimentos.
- Riscos de execução: Falhas na integração ou sinergias abaixo do esperado podem frustrar o mercado.
- Volatilidade de commodities: Preços de carne, insumos e câmbio seguem críticos para rentabilidade.
- Governança: Salic (estatal de investimento em agropecuária da Arábia Saudita) converteu participação em BRF para derivativos, buscando neutralidade, mas presença relevante pode gerar questionamentos futuros.
O que você acha da nova MBRF?
OBS: Dados coletados em 16 de outubro de 2025