Argentina: A crise permanente e o espelho do Brasil

Publicado 14.10.2025, 10:00
Mais uma vez assistimos a um colapso econômico na Argentina. Esse não é um problema novo, mas o resultado de décadas de políticas equivocadas e de uma incapacidade estrutural de promover estabilidade fiscal e monetária.
 
Até meados da década de 1980, a Argentina possuía uma indústria robusta, com destaque para os setores automobilístico, metalúrgico e de bens de consumo. No entanto, a chamada “década perdida” expôs os limites desse modelo: o país enfrentava alto endividamento, juros elevados e inflação crônica, que corroíam o poder de compra e a competitividade industrial.
 
Nos anos 1990, enquanto o Brasil implementava o Plano Real, o ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo, criava o Plano de Conversibilidade, que atrelou o peso ao dólar. A medida trouxe estabilidade monetária, mas destruiu a capacidade produtiva. O câmbio valorizado barateou importações, inviabilizou exportações e culminou na crise de 2001 — um trauma ainda vivo na memória nacional.
 
As gestões Kirchner aprofundaram o viés intervencionista, com aumento do gasto público, congelamento de tarifas e expansão monetária — políticas que mascararam desequilíbrios estruturais até que a inflação voltou a explodir.
 
Com Javier Milei, a promessa de um “choque liberal” reacendeu esperanças de ajuste. No entanto, sem capital político e com forte resistência sindical, o risco é transformar o discurso de austeridade em paralisia. A inflação anual fechou agosto de 2025 em 33,6%, enquanto a taxa de pobreza encerrou 2024 em 38% da população, segundo o Instituto Nacional de Estadística y Censos (Indec). As reservas internacionais seguem pressionadas, apesar do recente swap cambial de US$ 20 bilhões com os Estados Unidos. O FMI continua como âncora de emergência, não de desenvolvimento.
 
Para o Brasil, maior parceiro comercial da Argentina no Mercosul, o impacto é inevitável. A recessão argentina reduz exportações de veículos, alimentos e manufaturados, além de pressionar o câmbio regional. Uma desintegração econômica em Buenos Aires enfraquece o bloco e compromete a estratégia brasileira de reindustrialização voltada à América do Sul.
 
O futuro argentino é um alerta: sem disciplina fiscal, estabilidade monetária e reformas institucionais, não há plano econômico que sobreviva ao populismo. E o Brasil, que enfrenta dilemas fiscais semelhantes, faria bem em observar o vizinho — não como espelho, mas como aviso.
 
O Brasil precisa fazer sua lição de casa e, por ter uma situação fiscal mais sólida, pode agir de forma construtiva para evitar um efeito dominó na região.

Saídas que o Brasil Pode Propor

 
1. Integração Comercial e Financeira
 
Ampliar o intercâmbio regional, facilitando crédito, comércio e investimentos entre os países do Mercosul.
 
2. Cooperação Energética
 
A Argentina possui vastas reservas de gás natural em Vaca Muerta, mas carece de investimentos e infraestrutura. O Brasil poderia atuar por meio da Petrobras ou de empresas privadas, garantindo segurança energética e reduzindo custos no Mercosul.
 
3. Apoio via BNDES e Banco do Sul
 
Sem precisar “bancar” a Argentina, o Brasil pode financiar projetos de infraestrutura binacionais — pontes, ferrovias e gasodutos — por meio do BNDES. Isso geraria empregos, fortaleceria exportações e estimularia a integração produtiva no Cone Sul.

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