Wall Street dispara com comentários de Trump sobre a China e Broadcom sobe
Se na semana passada o alerta vermelho acendeu no painel da economia brasileira, nesta semana, as sirenes começaram a tocar. Lembra da nossa conversa sobre a proposta de isenção do Imposto de Renda? E de como o mercado ficou de cabelo em pé com uma conta que simplesmente não fechava? Pois bem, a desconfiança que era apenas uma fumaça no horizonte se transformou em um incêndio, e os dois eventos que esperávamos com ansiedade – a inflação no Brasil e o recado do banco central americano – funcionaram como galões de gasolina jogados sobre as chamas.
Na semana anterior, alertamos que a combinação de uma inflação alta por aqui com um tom mais duro nos Estados Unidos seria a "combinação perfeita" para o estresse. Infelizmente, a profecia se cumpriu à risca. Primeiro, veio o dado do IPCA, a nossa inflação oficial. O número veio mais salgado do que o mercado esperava. Foi a confirmação matemática do que todos temiam: o desequilíbrio nas contas do governo, que começou com a promessa de um benefício fiscal sem uma fonte clara de recursos, já está vazando para os preços no supermercado, no posto de gasolina e nos serviços. É como um médico que, desconfiado de uma doença, recebe o exame de sangue confirmando a febre. A doença do risco fiscal está, de fato, inflamando o corpo da economia.
Como se o nosso problema interno não fosse suficiente, o cenário externo jogou um balde de água fria em qualquer esperança de alívio. A Ata do FOMC, o documento que detalha a reunião do banco central americano, veio com um recado claro, em letras garrafais: os juros nos Estados Unidos vão continuar altos por mais tempo. Para o mundo, isso significa que o "dinheiro seguro", o dólar, continuará forte e atraente. Para o Brasil, que já estava lidando com seus próprios demônios, foi a pior notícia possível. É como descobrir que uma tempestade global está se formando bem no momento em que o seu próprio barco começa a fazer água.
A consequência direta dessa tempestade perfeita foi uma reviravolta dramática nas taxas de juros. Se na semana passada o mercado já achava difícil o Banco Central iniciar em breve o ciclo de cortes da nossa taxa Selic, nesta semana a conversa mudou de patamar. A discussão agora não é mais “se” os cortes vão começar, mas sim "quando" o Banco Central pode ser forçado a subir os juros novamente. Essa mudança de expectativa é brutal e afeta a todos. O sonho do crédito mais barato para comprar um carro, reformar a casa ou para o pequeno empresário investir ficou subitamente muito mais distante.
Com o nosso risco interno subindo e o dólar se fortalecendo no mundo todo, o resultado no câmbio foi o que se esperava: uma disparada. A moeda americana subiu forte, refletindo a dupla pressão. Os investidores, vendo a inflação subir aqui e os juros se manterem atrativos lá fora, correram para o porto seguro do dólar. E como já sabemos, um dólar mais caro hoje significa preços mais altos para todos nós amanhã, corroendo ainda mais o poder de compra dos nossos salários.
E na Bolsa de Valores, o que vimos foi a confirmação exata do que chamamos de "capitulação". O movimento defensivo da semana passada se transformou em uma fuga generalizada. Os investidores praticamente "jogaram a toalha" em relação às ações de empresas ligadas ao nosso dia a dia. Varejistas, construtoras, empresas de shoppings, todas sofreram fortemente. O mercado, em uníssono, disse que não acredita em uma melhora da economia brasileira no curto prazo. Apenas aquele pequeno grupo de empresas exportadoras, que ganham com o dólar alto, conseguiu se salvar do pessimismo.
No fim das contas, esta semana nos trouxe a materialização de todos os temores. E aqui, cabe um agradecimento especial – e um tanto irônico – à audiência maciça que nos criticou duramente na semana passada, mas que, ao mesmo tempo, nos manteve como a análise mais lida aqui do portal por dias. Isso prova um ponto importante: não adianta atirar no mensageiro. Nosso papel não é torcer pelo caos, mas apenas mostrar o mapa que leva até ele. E o mapa desta semana nos levou exatamente ao destino que havíamos traçado: aquele paradoxo que discutimos – de como um benefício aparente gera um custo real – está deixando de ser uma teoria e se tornando uma dura realidade no seu bolso. O dinheiro que talvez sobre no holerite com a isenção do IR já está sendo devorado pela inflação mais alta, pelos juros maiores e pela desvalorização da nossa moeda.
A lição, mais uma vez, é que na economia, não existe mágica. As contas públicas de um país são como a fundação de uma casa. Se a fundação é instável, não adianta tentar decorar os cômodos. A rachadura, cedo ou tarde, vai aparecer na parede. Nesta semana, as rachaduras ficaram expostas para todos verem. A conta, que o governo tenta adiar, está chegando. E, como sempre, ela será entregue com juros e correção monetária para toda a população.
É hora de entrar em AÇÃO!