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O Brasil vive um paradoxo inquietante: enquanto avança em pautas modernas como ESG, sustentabilidade e governança, ainda tropeça em questões estruturais que comprometem a confiança nas instituições. O país que lidera debates sobre transição energética e inclusão social é o mesmo que convive com escândalos corporativos, desmatamento desenfreado e uma Justiça que, por vezes, tarda — e falha.
No setor financeiro, por exemplo, a sofisticação dos produtos oferecidos por corretoras contrasta com a fragilidade da regulação. Investidores são atraídos por promessas de rentabilidade, muitas vezes sem a devida transparência. Quando se dão conta de que foram lesados, enfrentam um sistema judicial lento, técnico, mas pouco acessível. Casos emblemáticos como o da Americanas e da Light escancararam não apenas falhas de governança, mas também a dificuldade de responsabilização efetiva. A sensação de impunidade não é apenas jurídica — é cultural.
No campo ambiental, o cenário é igualmente preocupante. Apesar dos esforços de órgãos públicos e da mobilização internacional, o desmatamento na Amazônia persiste. A ação de grileiros e garimpeiros ilegais continua a colocar em risco comunidades indígenas e comprometer a imagem do Brasil no exterior. A legislação existe, mas sua aplicação é intermitente. Falta articulação entre os poderes, fiscalização eficiente e, sobretudo, vontade política para enfrentar interesses arraigados.
Esses desafios não são isolados. Eles revelam uma falha sistêmica na articulação entre o setor público e o privado, entre o que se legisla e o que se pratica. O conceito de ESG, tão celebrado em relatórios corporativos, ainda não encontrou eco pleno nas instituições que deveriam garantir sua efetividade. A governança, entendida como um conjunto de práticas éticas e sustentáveis, precisa deixar de ser um jargão e se tornar um compromisso real.
Nesse contexto, o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) é crucial. Mais do que guardião da Constituição, a Corte é um termômetro da maturidade institucional do país. Suas decisões moldam o ambiente de negócios, influenciam políticas públicas e sinalizam ao mundo o grau de comprometimento do Brasil com valores democráticos e sustentáveis.
É por isso que, diante da iminente renovação de cadeiras no STF, torna-se legítimo refletir sobre os perfis que poderiam contribuir para esse novo momento. Sem fazer indicações explícitas, é possível imaginar que alguém com sólida formação jurídica, experiência em governança corporativa, atuação em conselhos de grandes empresas e sensibilidade para temas como compliance e sustentabilidade poderia agregar muito ao debate constitucional. Alguém que transita com fluidez entre o setor privado e o público, que entende os dilemas do mercado e os limites da lei, e que enxerga o ESG não como uma tendência, mas como uma necessidade.
Nomes com esse perfil existem. Alguns já atuam em câmaras arbitrais, outros em conselhos de administração, outros ainda como articuladores de políticas de integridade. Francisco Petros, por exemplo, tem se destacado por sua atuação em empresas como Petrobras e BRF, por sua produção intelectual crítica e por sua defesa de uma governança transformadora. É um nome pouco cotado para a substituição de Luiz Roberto Barroso, que anunciou sua aposentadoria no STF, mas certamente alguém com capacidade e experiência para contribuir com a Justiça em geral e agregar nas questões citadas acima.
Citei um nome. Há outros com perfil semelhante e competência, claro. O fato é que o Brasil precisa de pontes. Entre o que se promete e o que se cumpre. Entre o que se sonha e o que se realiza. E talvez, entre os nomes que hoje orbitam os bastidores da República, esteja alguém capaz de construir essas pontes com firmeza, ética e visão de futuro.