Por José de Castro
(Reuters) - O dólar terminou em alta e no maior patamar de encerramento em dois meses nesta quinta-feira, mais do que devolvendo a queda da véspera, com as negociações domésticas novamente contaminadas pelo clima arisco no exterior ainda por temores de recessão em meio ao aperto global da política monetária.
A três dias do primeiro turno das eleições no Brasil, o dólar no mercado interbancário fechou em alta de 0,83%, a 5,3937 reais, maior valor desde 22 de julho (5,4976 reais).
A cotação operou todo o dia em campo positivo, variando de 5,3741 reais (0,47%) a 5,4306 reais (1,52%).
O real operou em sintonia com outras moedas emergentes, que também perderam terreno em dia de liquidação em Wall Street, onde o índice de tecnologia Nasdaq chegou a cair mais de 3% durante a sessão, com investidores ainda nervosos com o discurso duro de bancos centrais apesar de crescentes riscos de recessão nas principais economias globais.
A economista especialista em mercado de capitais Ariane Benedito, no entanto, diz que o real tem a seu favor uma série de elementos, entre eles os juros altos da economia brasileira, um cenário eleitoral sem expectativas de disrupções na política macroeconômica e os sinais fortes vindos da atividade.
"O modelo considerando riscos eleitorais, por exemplo, indicaria lá atrás 5,80 reais, que de fato não é a taxa que temos hoje", disse a economista.
"A eleição no Brasil não é o principal fator agora --tem os EUA e não tem o que fazer com juros americanos a 3% e com expectativa de irem a 4%--, mas aqui, no pós-eleição, podemos ver muita volatilidade, porque o mercado vai ficar bastante sensível à comunicação do próximo governo, com atenção ao fiscal e aos pagamentos dos auxílios."
Os candidatos à Presidência estão tendo a última chance de pedir votos na propaganda de rádio e TV nesta quinta-feira, dia que também será marcado pela divulgação de uma nova pesquisa Datafolha e pelo debate na TV Globo, que terá as presenças de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas, e do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).
Mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou que o real tem tido picos de volatilidade, mas, em geral, tem apresentado performance melhor do que a média de seus pares.
Excluindo o rublo russo, que está sob forte ingerência de Moscou, o real é a divisa com melhor desempenho global no ano, em alta de 3,33% ante o dólar. Além disso, é uma das únicas três moedas, num universo de 32, a mostrar ganhos no período.