Dólar reduz alta e sobe 1% ante real, um dia após S&P rebaixar Brasil

Publicado 10.09.2015, 14:37
© Reuters. Nota de dólar em casa de câmbio no Rio de Janeiro
USD/BRL
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Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar reduziu a alta e passou a subir 1 por cento nesta quinta-feira, passado o susto inicial com a perda do selo de bom pagador do Brasil, decidido pela Standard & Poor's, que levou a moeda norte-americana a avançar 3 por cento mais cedo e atingir 3,91 reais.

Operadores citaram como elementos que motivaram o alívio a declarações da Fitch que sugerem que deve manter o grau de investimento do país no curto prazo, além da intervenção do Banco Central pela manhã. Ainda assim, a percepção nas mesas de operação é que o dólar tende a rumar para a máxima histórica de 4 reais em breve, em uma trajetória volátil.

Às 14:35, o dólar avançava 1,05 por cento, a 3,8393 reais na venda. Na máxima do dia, saltou 3,10 por cento e alcançou 3,9173 reais, maior nível intradia desde 23 de outubro de 2002 (3,9200) reais. Foi em 10 de outubro daquele ano que o dólar atingiu sua máxima histórica, de 4 reais.

"O dólar perto de 4 reais está precificando tudo que está acontecendo", resumiu o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho, ressaltando que novos problemas na política e na economia no Brasil, bem como altas da moeda norte-americana nos mercados externos, devem elevar ainda mais a cotação da divisa ante o real.

A S&P rebaixou o Brasil para "BB+", ante "BBB-", dias após o governo prever inédito déficit primário em 2016. Além de remover o grau de investimento, a S&P sinalizou que pode colocar o país ainda mais para dentro do território especulativo, ao manter a perspectiva negativa para a nota de crédito brasileira, o que significa que novo rebaixamento pode ocorrer no curto prazo.

A decisão da S&P impulsionou as cotações desde a abertura. Quando o dólar era negociado perto das máximas da sessão, o BC anunciou leilão de venda de até 1,5 bilhão de dólares com compromisso de recompra, o que já ajudou a reduzir o avanço da divisa. Segundo a assessoria de imprensa da autoridade monetária, a operação não serve para rolar uma linha já existente.

A taxa de corte ficou em 4,014460 reais na primeira etapa da operação, com data de recompra em 4 de janeiro de 2016. Na segunda, para 4 de abril de 2016, a taxa de corte ficou em 4,121420 reais.

O BC também deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em outubro, vendendo a oferta total de até 9,45 mil contratos, que equivalem a venda futura de dólares. Ao todo, já rolou o correspondente a 3,181 bilhões de dólares, ou cerca de 33 por cento do total de 9,458 bilhões de dólares e, se continuar neste ritmo, vai recolocar o todo o lote até o fim deste mês.

O avanço da moeda norte-americana perdeu mais força no início da tarde, após a analista sênior da Fitch Shelly Shetty afirmar que a agência ainda vê elementos apoiando o grau de investimento do Brasil. A declaração tirou um pouco do ímpeto das expectativas de que o país poderia perder o selo de bom pagador por outras agências, o que provocaria intensa fuga de capitais dos mercados locais.

A Fitch classifica o Brasil atualmente em "BBB", com perspectiva negativa, ainda dois níveis acima do grau especulativo.

"Mas ainda tem muita coisa para acontecer, muita volatilidade. O jeito é comprar (dólares) na baixa e vender na alta, no intradia", disse o operador de uma corretora nacional.

Para o gestor da Absolute Investimentos Roberto Campos, a alta da moeda norte-americana, apesar de intensa, tem sido "comportada", sem grandes fluxos de saída de dólares no mercado à vista. "Quem quer vender Brasil, tem feito no mercado futuro, pensando que volta (ao país) quando a poeira baixar", explicou.

Em agosto, o Brasil registrou entrada líquida de 4,111 bilhões de dólares, refletindo ingressos tanto na conta financeira quanto na comercial.

© Reuters. Nota de dólar em casa de câmbio no Rio de Janeiro

"A dúvida é se em algum momento isso vai mudar, se vão colocar em questão as instituições do Brasil. Eu acho que estamos muito perto de virar essa chave", disse Campos.

Ele acredita que, se esse estresse se concretizar, o BC pode reforçar sua intervenção no câmbio com vendas no mercado à vista. "Grande parte da decisão de usar as reservas (internacionais) diz respeito à questão do grau de investimento. A partir do momento em que perdeu o grau de investimento, o BC fica mais livre para atuar no caso de um estresse."

Uma fonte da equipe econômica afirmou à Reuters que os ativos brasileiros estão reagindo melhor que o esperado à perda do grau de investimento do país pela S&P. Segundo a fonte, os leilões de swap e de linha estão funcionando bem no mercado, que não está disfuncional ou sem liquidez.

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