SÃO PAULO (Reuters) - O dólar saltava cerca de 2 por cento e chegou a bater 3,91 reais nesta quinta-feira, após a agência de classificação de risco Standard & Poor's retirar o selo de bom pagador do Brasil, com investidores já apostando que irá a 4 reais, maior nível já registrado, aumentando a pressão sobre a inflação.
A alta da moeda norte-americana perdeu parte da força durante a manhã, no entanto, após o Banco Central anunciar nova intervenção no câmbio, com leilão de venda de dólares com compromisso de recompra.
Às 11:38, o dólar avançava 2,12 por cento, a 3,8798 reais na venda. Na máxima do dia, subiu 3,10 por cento e alcançou 3,9173 reais, maior nível intradia desde 23 de outubro de 2002 (3,9200) reais. Foi no dia 10 de outubro daquele ano que o dólar atingiu sua máxima histórica intradia, de 4 reais.
"O dólar perto de 4 reais está precificando tudo que está acontecendo", resumiu o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho, ressaltando que novos problemas na política e na economia no Brasil, bem como altas da moeda norte-americana nos mercados externos, devem elevar ainda mais as cotações.
A S&P rebaixou o Brasil para "BB+", ante "BBB-", dez dias após o governo prever inédito déficit primário em 2016. Além de remover o grau de investimento, a S&P sinalizou que pode colocar o país ainda mais para dentro do território especulativo, ao manter a perspectiva negativa para a nota de crédito brasileira, o que significa que novo rebaixamento pode ocorrer no curto prazo.
O avanço do dólar desacelerou após o BC anunciar leilão de venda de até 1,5 bilhão de dólares com compromisso de recompra. Segundo a assessoria de imprensa, a operação não serve para rolar uma linha já existente.
A taxa de corte ficou em 4,014460 reais na primeira etapa da operação, com data de recompra em 4 de janeiro de 2016. Na segunda etapa, para 4 de abril de 2016, a taxa de corte ficou em 4,121420 reais.
Ainda de manhã, BC também dá continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em outubro, com oferta de até 9,45 mil contratos, equivalentes a venda futura de dólares.
Para o gestor da Absolute Investimentos Roberto Campos, a alta da moeda norte-americana, apesar de intensa, tem sido "comportada", sem grandes fluxos de saída de dólares no mercado à vista. "Quem quer vender Brasil, tem feito no mercado futuro, pensando que volta (ao país) quando a poeira baixar", explicou.
Em agosto, o Brasil registrou entrada líquida de 4,111 bilhões de dólares, refletindo ingressos tanto na conta financeira quanto na comercial.
"A dúvida é se em algum momento isso vai mudar, se vão colocar em questão as instituições do Brasil. Eu acho que estamos muito perto de virar essa chave", disse.
Ele acredita que, se esse estresse se concretizar, o BC pode reforçar sua intervenção no câmbio com vendas no mercado à vista. "Grande parte da decisão de usar as reservas diz respeito à questão do grau de investimento. A partir do momento em que perdeu o grau de investimento, O BC fica mais livre para atuar no caso de um estresse".
(Por Bruno Federowski)