Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia frente ao real nesta sexta-feira, ampliando os ganhos de sessões recentes, conforme investidores digeriam dados moderados de inflação nos Estados Unidos e observavam a disputa pela Ptax, mesmo após o Banco Central vender 1,5 bilhão de dólares em leilão no mercado à vista.
Às 11h07, o dólar à vista subia 0,33%, a 5,6413 reais na venda. Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,62%, a 5,664 reais na venda.
Na quinta-feira, o dólar à vista fechou em alta de 1,19%, cotado a 5,6227 reais.
Nesta manhã, uma série de fatores moldava as decisões dos investidores nos mercados de câmbio, com a força do dólar no exterior e a disputa pela Ptax se sobrepondo à influência de um leilão à vista realizado pelo BC.
O Departamento de Trabalho dos EUA anunciou que seu índice PCE -- a medida de inflação preferida do Federal Reserve -- teve alta de 0,2% em julho na base mensal, em linha com o esperado por analistas, ante avanço de 0,1% no mês anterior.
Em 12 meses, o índice chegou a 2,6%, de 2,5% em junho, mas ainda próximo da meta de 2% do Fed.
O resultado consolidou as apostas dos agentes financeiros de que o banco central dos EUA deve realizar um ciclo de afrouxamento monetário gradual a partir de setembro, à medida que a inflação, apesar de moderada, ainda segue um pouco acima da meta e a economia tem mostrado resiliência, como visto nos números do PIB na véspera.
Essa é uma mudança em relação à perspectiva no início do mês de que a maior economia do mundo poderia estar rumando para uma recessão, o que fez operadores precificarem cortes de juros mais agressivos na época.
Os mercados indicavam 70% de chances de um corte de 25 pontos-base no Fed, ligeiramente acima dos 68% projetados na quinta-feira. A probabilidade de uma redução de 50 pontos-base recuou para 30%
Dessa forma, o dólar se fortalecia ante seus pares fortes, acompanhando a alta nos rendimentos dos Treasuries.
O rendimento do Treasury de dois anos --que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha alta de 2 pontos-base, a 3,908%.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,11%, a 101,470.
"Eu diria que tem uma forte pressão externa hoje por conta do PCE. Leitura do mercado é que corte de juros tende a ser mais modesto", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
No cenário nacional, Bergallo apontou ainda que a disputa pela definição da Ptax de fim de mês, que ocorre nesta sexta, influenciava os negócios, com os investidores comprados impulsionando as cotações.
"Nitidamente os comprados estão mais fortes", afirmou.
Os ganhos da divisa norte-americana ainda ocorriam apesar da venda de 1,5 bilhões de dólares pelo Banco Central em leilão à vista durante a manhã, o que inicialmente levou a uma leve valorização do real, mas não se sustentou.
O dólar atingiu a mínima da sessão minutos após o fim do leilão, às 9h40 (-0,72%), mas passou a avançar logo depois, chegando a subir mais de 1% em um determinando momento.
Esta foi apenas a segunda intervenção do BC no mercado de câmbio desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo a primeira no mercado à vista. A autarquia não forneceu explicações para a ação até o momento.