Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em firme queda nesta quarta-feira e no menor valor em quase um mês, abaixo de 5,25 reais, o que conferiu à moeda brasileira o segundo melhor desempenho global na sessão, após uma onda de vendas da divisa norte-americana na esteira de sinalização do banco central dos Estados Unidos que limou apostas em aumentos mais agressivos dos juros por lá.
O Federal Reserve --mais poderoso banco central do mundo-- elevou os juros em 0,75 ponto percentual, confirmando expectativas e pondo de vez fim a precificações que chegaram a indicar um superaumento de 1 ponto na taxa básica, as quais por sua vez haviam ajudado a empurrar o dólar globalmente a máximas em 20 anos.
Além disso, houve algum reconhecimento de desaceleração da economia norte-americana. E em coletiva de imprensa o chefe da instituição, Jerome Powell, afirmou que em algum momento a magnitude do aperto nos juros diminuirá, esvaziando apostas até mesmo de nova alta de 0,75 ponto.
Ainda assim, o Fed reforçou compromisso em levar a inflação à meta de 2%, buscando um pouso suave para a economia --o que aliviaria temores de recessão por trás do mau humor dos mercados nas últimas semanas.
"O Fed conseguiu entregar o que o mercado queria. Um aumento em linha com o esperado, mas um discurso que foi lido como mais 'dove' (menos duro)", disse Fernando Ferreira, economista-chefe da XP (BVMF:XPBR31).
Aqui e lá fora o dólar chegou a cair logo depois do anúncio da decisão do Fed, às 15h (de Brasília), mas recobrou forças e bateu uma máxima. Com o início da coletiva de imprensa de Powell às 15h30, a moeda afundou.
O índice do dólar contra uma cesta de rivais no exterior caía 0,65% no fim da tarde, após chegar a subir 0,27%.
"Powell indicou que o juro vai seguir em alta, mas agora talvez para entre 3% e 4% e não entre 4% e 5%", disse Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital, que destacou, além do movimento cambial, a disparada de 4,06% do índice Nasdaq Composite em Nova York, composto por empresas mais suscetíveis aos efeitos do aperto monetário.
Para o gestor, "está claro" que o real é um "grande beneficiado" da nova tônica do Fed.
"A gente já sabia que o diferencial de juros era muito grande (a favor do Brasil). Agora sabemos que a fed fund (juro norte-americano) vai até certo ponto, e a gente aqui vai para em torno de 14%. É gritante isso. Com certeza o real fica mais atrativo", acrescentou Kokudai.
O dólar à vista caiu 1,92%, a 5,2493 reais, menor patamar desde 30 de junho (5,2311 reais).
A queda deixou a cotação abaixo de sua média móvel de 200 dias pela primeira vez também desde 30 de junho. Rompimentos sustentados desse patamar são vistos na análise técnica como sinalizadores de mais desvalorização do preço de um ativo --no caso, o dólar.