Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar terminou em forte queda o pregão desta sexta-feira, indo ao menor patamar em dois meses e engatando a terceira semana consecutiva de perdas, com operadores espelhando a fraqueza da moeda ante divisas emergentes e correlacionadas às commodities em um cenário de esperanças de menor aperto monetário nos EUA.
O dólar à vista caiu 1,66% nesta sexta, a 5,0742 reais, mínima desde 15 de junho (5,0278 reais). A cotação desceu a 5,0647 reais no ponto mais baixo do dia, queda de 1,84%.
O dólar aqui desviou da alta de 0,5% de um índice da moeda norte-americana contra pares de mercados desenvolvidos. Na lista de vencedores no mercado de câmbio nesta sexta estiveram moedas de risco, com juros mais altos atrelados e mais golpeadas pelas perspectivas mais duras para a política monetária dos EUA.
A recuperação dessa classe de moedas veio na esteira de uma mudança no cenário para os juros norte-americanos, depois de dados de inflação mais brandos que o esperado por lá oferecerem esperanças de que o Fed não seja tão agressivo na elevação dos custos dos empréstimos quanto o temido anteriormente.
Não por acaso, além das moedas de países emergentes, outras classes de ativos tiveram firmes altas nesta sexta. As bolsas de valores em Nova York mostraram novo rali e o Ibovespa bateu os 112 mil pontos. O ouro --que, diferentemente dos títulos de renda fixa, não paga juro-- subia 0,7%.
As taxas dos títulos do Tesouro dos EUA, uma medida da trajetória dos juros por lá, caíram.
"Nosso exercício de correlação simples sugere que um recuo nas taxas dos EUA beneficiaria uniformemente os ativos de risco de mercados emergentes, mas mais significativamente o crédito e as moedas de alto rendimento", disseram estrategistas do Barclays (LON:BARC) em relatório.
Eles citaram o real entre as moedas de "alta qualidade" cujas operações com arbitragem de taxa de juros ("carry trade") poderiam mostrar desempenho superior. O peso mexicano também está na lista.
"O real tem a maior taxa de juros do mundo civilizado, e isso tende a ajudar a moeda", disse Ronaldo Patah, estrategista-chefe da UBS Consenso, multi-family office do UBS no Brasil. "Por isso que toda vez que tem estresse e a taxa de câmbio chega a testar os 5,50 reais (por dólar) ela acaba voltando para 5", adicionou.
De acordo com o estrategista, ainda que os juros nos EUA sigam em alta num momento em que no Brasil o Banco Central pode ter encerrado o ciclo, o investidor vai se concentrar na possibilidade de ganhos nos ativos brasileiros.
"Parece que esse momento chegou para o Brasil. É o momento de se posicionar para aproveitar esse juro mais alto, porque o risco de perder dinheiro diminui. A tendência de curto prazo é aproveitar esse juro alto, se beneficiar da tendência de ganho de capital, porque a taxa vai cair", finalizou.
Patah segue vendo o preço "justo" para o dólar em 5,00 reais.
No acumulado desta semana o dólar recuou 1,83%. Na parcial de agosto, cai 1,90%, aprofundando a queda em 2022 para 8,96% --boa parte dela construída nos primeiros meses do ano.
A forte desvalorização da moeda norte-americana no começo de 2022 aproximou a taxa real de câmbio efetiva do patamar sugerido pelos fundamentos, segundo estudo da FGV.
O desalinhamento negativo médio chegou ao menor patamar desde pelo menos junho de 2020. Porém, após março a estimativa do coordenador Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV (FGV-EESP), Emerson Marçal, é que o desvio negativo tenha voltado a aumentar.
"O que vai dominar o câmbio até o fim do ano basicamente é a dinâmica doméstica", disse Marçal, sem descartar, contudo, impacto potencial de surpresas externas, sobretudo do lado da política monetária norte-americana.
O Barclays ponderou ainda não ver início de uma tendência de valorização mais sustentada dos ativos dos mercados emergentes, o que poderia limitar, portanto, a performance do real.
"O cenário macro continua desafiador em meio aos crescentes riscos de crescimento nos EUA e na Europa, tensões EUA-China renovadas e preços de commodities saindo das máximas", disseram.
"Além disso, o Fed pode precisar ver mais alívio nas pressões de preços do que apenas uma leitura antes de as autoridades do banco central darem meia-volta para o lado 'dovish'."