César Muñoz Acebes.
Washington, 24 fev (EFE).- O presidente do Federal Reserve (Fed,
banco central americano), Ben Bernanke, prometeu hoje manter os
juros baixos por um longo período devido à fragilidade da
recuperação econômica.
Em comparecimento no Congresso americano, Bernanke deixou claro
que um ajuste na política monetária não está próximo, uma mensagem
reconfortante para os mercados, que reagiram com altas.
O chefe do Fed já tinha dito isso antes, mas o recente aumento da
taxa de juros aos empréstimos concedido a bancos tinha gerado temor
de que o inevitável endurecimento das medidas monetárias estaria
mais perto que o previsto.
Bernanke afirmou hoje que a taxa básica de juros, que atualmente
ronda 0%, "se manterá em um nível baixo por um período de tempo
prolongado".
O presidente do Fed em Saint Louis, James Bullard, disse na
terça-feira que esse período será de pelo menos seis meses.
Embora a economia americana tenha crescido 4% na segunda metade
do ano passado, Bernanke questionou o vigor da recuperação.
Segundo ele, grande parte dessa situação se deve ao aumento de
estoques, que é temporário, e ao estímulo orçamentário, que
diminuirá este ano.
"Uma recuperação sustentável dependerá do crescimento contínuo na
demanda de bens e serviços por parte do setor privado", disse
Bernanke à Comissão de Serviços Financeiros da Câmara de
Representantes, onde apresentou o relatório semestral sobre a
economia.
A demanda subiu de forma moderada graças a aumentos no consumo,
no investimento e no comércio internacional, mas ao mesmo tempo o
setor imobiliário continua sendo o calcanhar de Aquiles da economia
americana.
As vendas de casas novas caíram 11,2% em janeiro, ao nível mais
baixo desde 1963, segundo informou hoje o Governo, enquanto
especialistas previam um aumento de 3,8%.
Pior é o panorama no setor de prédios comerciais, como lojas,
estacionamentos e escritórios, onde a construção caiu
"drasticamente", segundo Bernanke.
A crise nessa área atinge em particular os bancos, o que explica
que o número de entidades com problemas tenha crescido 27% no quarto
trimestre do ano passado, ao maior nível desde 1993.
No campo do trabalho, há sinais de que o ponto de inflexão está
próximo, dado o arrefecimento da perda de emprego, mas mesmo assim o
mercado laboral segue, segundo Bernarke, "bastante frágil".
O desemprego atinge atualmente 9,7% da população e a taxa só
cairá para entre 6,5% e 7,5% dentro de dois anos, segundo o chefe do
Fed.
O presidente do BC americano se preocupa especialmente com o
aumento do emprego a longo prazo, por seus efeitos negativos sobre a
preparação dos trabalhadores e seus salários.
O banco central prevê, portanto, uma recuperação sem a energia de
reviravoltas anteriores após recessões profundas e, por isso, também
acredita que a inflação seguirá controlada "por certo tempo".
Embora não esteja previsto no horizonte um aumento de juros,
outra questão são os programas de emergência com que o Fed injetou
liquidez nos mercados nos dias mais obscuros da crise financeira,
que já começou a retroceder.
Na terça-feira, o departamento do Tesouro anunciou que nos
próximos dois meses pegará emprestados US$ 200 bilhões e transferirá
o dinheiro ao Fed, numa operação que retirará essa quantia do
sistema financeiro.
Além disso, em 18 de fevereiro o banco central elevou em 0,25
ponto (a 0,75%) a taxa de juros que cobra aos bancos por empréstimos
de emergência.
Com isso, o Fed quer que os bancos deixem de recorrer ao banco
central e confiem, em vez disso, nos mercados privados para
financiamento.
Bernanke reiterou hoje que não prevê que a ação encareça o
crédito para consumidores e empresas, responsáveis por movimentar
uma engrenagem econômica que ainda se movimenta com lentidão. EFE