Dúvidas sobre recuperação forçam Fed a manter juros baixos

Publicado 24.02.2010, 17:12

César Muñoz Acebes.

Washington, 24 fev (EFE).- O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, prometeu hoje manter os juros baixos por um longo período devido à fragilidade da recuperação econômica.

Em comparecimento no Congresso americano, Bernanke deixou claro que um ajuste na política monetária não está próximo, uma mensagem reconfortante para os mercados, que reagiram com altas.

O chefe do Fed já tinha dito isso antes, mas o recente aumento da taxa de juros aos empréstimos concedido a bancos tinha gerado temor de que o inevitável endurecimento das medidas monetárias estaria mais perto que o previsto.

Bernanke afirmou hoje que a taxa básica de juros, que atualmente ronda 0%, "se manterá em um nível baixo por um período de tempo prolongado".

O presidente do Fed em Saint Louis, James Bullard, disse na terça-feira que esse período será de pelo menos seis meses.

Embora a economia americana tenha crescido 4% na segunda metade do ano passado, Bernanke questionou o vigor da recuperação.

Segundo ele, grande parte dessa situação se deve ao aumento de estoques, que é temporário, e ao estímulo orçamentário, que diminuirá este ano.

"Uma recuperação sustentável dependerá do crescimento contínuo na demanda de bens e serviços por parte do setor privado", disse Bernanke à Comissão de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes, onde apresentou o relatório semestral sobre a economia.

A demanda subiu de forma moderada graças a aumentos no consumo, no investimento e no comércio internacional, mas ao mesmo tempo o setor imobiliário continua sendo o calcanhar de Aquiles da economia americana.

As vendas de casas novas caíram 11,2% em janeiro, ao nível mais baixo desde 1963, segundo informou hoje o Governo, enquanto especialistas previam um aumento de 3,8%.

Pior é o panorama no setor de prédios comerciais, como lojas, estacionamentos e escritórios, onde a construção caiu "drasticamente", segundo Bernanke.

A crise nessa área atinge em particular os bancos, o que explica que o número de entidades com problemas tenha crescido 27% no quarto trimestre do ano passado, ao maior nível desde 1993.

No campo do trabalho, há sinais de que o ponto de inflexão está próximo, dado o arrefecimento da perda de emprego, mas mesmo assim o mercado laboral segue, segundo Bernarke, "bastante frágil".

O desemprego atinge atualmente 9,7% da população e a taxa só cairá para entre 6,5% e 7,5% dentro de dois anos, segundo o chefe do Fed.

O presidente do BC americano se preocupa especialmente com o aumento do emprego a longo prazo, por seus efeitos negativos sobre a preparação dos trabalhadores e seus salários.

O banco central prevê, portanto, uma recuperação sem a energia de reviravoltas anteriores após recessões profundas e, por isso, também acredita que a inflação seguirá controlada "por certo tempo".

Embora não esteja previsto no horizonte um aumento de juros, outra questão são os programas de emergência com que o Fed injetou liquidez nos mercados nos dias mais obscuros da crise financeira, que já começou a retroceder.

Na terça-feira, o departamento do Tesouro anunciou que nos próximos dois meses pegará emprestados US$ 200 bilhões e transferirá o dinheiro ao Fed, numa operação que retirará essa quantia do sistema financeiro.

Além disso, em 18 de fevereiro o banco central elevou em 0,25 ponto (a 0,75%) a taxa de juros que cobra aos bancos por empréstimos de emergência.

Com isso, o Fed quer que os bancos deixem de recorrer ao banco central e confiem, em vez disso, nos mercados privados para financiamento.

Bernanke reiterou hoje que não prevê que a ação encareça o crédito para consumidores e empresas, responsáveis por movimentar uma engrenagem econômica que ainda se movimenta com lentidão. EFE

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