Teerã, 11 jun (EFE).- Mais de 46 milhões de iranianos foram
convocados amanhã às urnas para escolher o presidente, em eleições
cruciais para o futuro do país e marcadas pelo enfrentamento social
e pela crise econômica.
O atual líder, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, buscará a
reeleição contra o independente pró-reformista Mir Hussein Moussavi,
o clérigo aberturista Mehdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezaei,
sem que, até o momento, haja um claro favorito.
Após duas semanas de dura campanha eleitoral, ensombreada por uma
série de ataques pessoais sem precedentes na história da revolução
iraniana, a sociedade se dividiu entre os que apoiam o presidente e
aqueles que simplesmente querem que ele saia.
Ahmadinejad parece contar com o apoio dos setores mais
conservadores do regime, o Exército, as zonas rurais e as classes
sociais mais desfavorecidas, apesar de não ter cumprido as promessas
econômicas que o levaram ao poder em 2005.
O ex-primeiro-ministro Moussavi aparece como a principal ameaça,
já que conseguiu ressuscitar a esperança dos jovens e gerar uma
espécie de "revolução pela mudança" que contagiou todos os pontos do
país.
Moussavi, que dirigiu o Governo entre 1981 e 1989, foi capaz de
reunir em torno de sua candidatura os jovens que esperam um giro
tanto na economia quanto nos costumes, e aqueles conservadores
insatisfeitos com o mandato de Ahmadinejad, mas que receiam o rótulo
de reformista.
Em um país onde as pesquisas não são confiáveis, as previsões
indicam que o ex-primeiro-ministro pode sair vencedor nas grandes
cidades, enquanto Ahmadinejad ganharia nos subúrbios e nas áreas
rurais.
As chaves serão, no entanto, o índice de participação - que as
autoridades esperam ser muito elevado - e a quantidade de votos que
conseguirem os outros dois candidatos, que foram também muito
críticos ao presidente.
Segundo a lei eleitoral iraniana, o candidato deve conseguir mais
de 50% dos votos emitidos e considerados válidos para ser eleito em
primeiro turno.
Caso contrário, os dois candidatos mais votados deverão ir a
segundo turno, já previsto para a próxima sexta-feira.
Os resultados serão divulgados no sábado pelo Ministério do
Interior, mas depois deverão ser validados pelo poderoso Conselho de
Guardiães.
De acordo com os especialistas, a presença de quatro candidatos
dificulta que um deles possa superar esse limite de 50% exigido.
A única coisa que parece certa é que, independente de quem
ganhar, terá que enfrentar um dos Governos mais complicados nos 30
anos de República Islâmica.
A dura campanha eleitoral, com várias acusações pessoais, e a
maré de esperança e ousadia entre a juventude que despertou Moussavi
preveem um ano agitado para o futuro presidente.
Diante da possibilidade de poder se transformar no primeiro líder
da história recente do Irã, Ahmadinejad optou na quarta-feira
passada por uma agressiva estratégia que incluiu ataques diretos
contra o ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, um dos homens
mais ricos e poderosos do país.
O líder conservador acusou o clérigo de corrupção e de ter se
aliado ao também ex-presidente Mohammad Khatami e ao candidato
Moussavi para desprestigiar e derrubar seu Governo.
Rafsanjani, que é também um dos mais odiados pela grande parte da
classe média e pelos setores mais desfavorecidos, respondeu com uma
carta ao líder supremo, Ali Khamenei, na qual advertia do perigo da
reeleição do presidente.
Diante da dura troca de acusações, que rachou também a coesão do
regime, o Poder Judiciário avisou que este tipo de incomuns
alegações constitui crime e podem ser perseguidas no futuro.
No entanto, parece que será finalmente a crise econômica que
decidirá o voto a favor de um ou outro candidato.
Os iranianos elegem amanhã, principalmente, um gerente do país,
já que o poder está nas mãos do líder supremo.
Durante os quatro anos do Governo de Ahmadinejad, a situação da
classe média piorou e a pobreza se intensificou, apesar das
políticas populistas do presidente.
A inflação e o índice de desemprego dispararam, e o preço dos
imóveis duplicou.
Na quarta-feira, no último ato de uma grande campanha eleitoral,
Moussavi pediu o voto "para que o Irã não fique destruído".
Ahmadinejad voltou a insistir em que os números são falsos e que
tudo é um complô contra seu Governo. EFE