Por Giulia Paravicini
ADIS ABEBA (Reuters) - Ao menos 78 pessoas morreram nos protestos ocorridos na Etiópia na semana passada contra o tratamento de um ativista proeminente, disse a porta-voz do primeiro-ministro nesta quinta-feira.
Billene Seyoum disse em uma coletiva de imprensa que 409 pessoas foram detidas devido aos tumultos, que há investigações em andamento e que tanto o saldo de mortes quanto o número de detidos pode aumentar.
O premiê Abiy Ahmed foi recebido nesta quinta-feira por ao menos 700 manifestantes ao som de vaias durante uma visita a Ambo, local de episódios anteriores de violência localizado 100 quilômetros a oeste da capital Adis Abeba, relatam à Reuters por telefone três pessoas presentes.
Quando o premiê chegou para uma reunião com políticos locais, apoiadores do ativista Jawar Mohammed reunidos diante da prefeitura bradaram "Fora, Abiy" e "Estamos com Jawar, Jawar é nosso herói", segundo as pessoas presentes.
Uma disse que os brados foram tão fortes que o primeiro-ministro deixou a reunião antes do tempo e foi retirado de Ambo em um helicóptero com um forte esquema de segurança.
Assim que ele partiu, a calma voltou à cidade, disseram as testemunhas, acrescentando que ninguém se feriu durante os protestos.
Apoiadores de Jawar foram às ruas na semana passada para protestar contra o tratamento que ele recebeu depois de dizer que policiais cercaram sua casa de Adis Abeba e tentaram retirar os seguranças destacados pelo governo.
Multidões de jovens de seu grupo étnico oromo logo direcionaram sua revolta contra Abiy, que também é oromo, dizendo que ele os traiu ao maltratar Jawar.
A capacidade de Jawar de organizar protestos de rua ajudou Abiy a chegar ao poder no ano passado.
Billene disse que ao menos 78 civis morreram em "um ato muito insensato de violência" nas regiões de Oromiya e Harari e em Dire Dawa, cidade do leste do país, na semana passada.
Desde sua nomeação, Abiy implantou reformas políticas abrangentes que lhe renderam prestígio internacional, mas também deu espaço a tensões longamente reprimidas entre os muitos grupos étnicos nacionais. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz neste mês por fazer as pazes com a Eritreia, inimiga de longa data da Etiópia.
Até as eleições do ano que vem, Abiy terá que equilibrar as liberdades políticas crescentes e líderes autoritários que investem em bases de poder étnicas exigindo mais acesso a terras, poder e recursos para seus grupos.
(Reportagem adicional de Tiksa Negeri)