Esther Borrell.
Caracas, 26 set (EFE).- Os venezuelanos votam neste domingo para
renovar a unicameral Assembleia Nacional, de 165 deputados, em
pleito que conta com alta participação dos eleitores e que confronta
o presidente Hugo Chávez e a oposição.
Tanto líderes políticos como autoridades eleitorais e
observadores sublinharam desde a primeira hora do dia a alta
afluência de eleitores aos centros habilitados em todo o país para
receber o voto dos cidadãos, que vão decidir se Chávez mantém seu
apoio majoritário na Câmara.
O próprio líder venezuelano destacou que, segundo projeções das
quais havia sido informado, a participação populacional estaria
perto de 70%.
Em declarações à imprensa após votar em Caracas, Chávez lembrou
que em pleitos passados, antes de sua chegada ao poder, em 1999,
havia até 70% de abstenção.
O líder ainda aproveitou para fazer um chamado "aos que ainda não
foram votar" para que acudam às urnas, em dia que acabou sendo
ensolarado, depois das intensas chuvas dos últimos dias, que
semearam preocupação a respeito de como podiam influenciar na ida
dos eleitores às urnas. Foram habilitados para votar 17,5 milhões de
venezuelanos.
Questionado sobre o que fará se o seu Partido Socialista Unido da
Venezuela (PSUV) não conseguir os dois terços das cadeiras, que,
segundo ele mesmo, são necessários para seguir com o "processo
revolucionário", Chávez disse que se tratava de "uma pergunta
hipotética" e que preferia "não falar de hipótese", antes de
completar dizendo que "o povo ainda está falando" através do voto
até o fechamento dos centros eleitorais, previsto para as 18h da
hora local (19h30 de Brasília).
Durante a campanha, o presidente previu que seu partido alcançará
110 das 165 cadeiras (dois terços), para "aprofundar" sua revolução
em direção às eleições presidenciais de 2012, nas quais tentará
renovar seu mandato.
Com o controle da Câmara venezuelana, é possível conseguir, com a
aprovação dos deputados afins, a adoção de leis orgânicas e
nomeações de integrantes de poderes estatais.
"Que ninguém se deixe dirigir novamente pelos caminhos da
desestabilização", disse Chávez em alusão aos partidos da oposição
venezuelana, que se juntaram sob a "Mesa de Unidade Democrática"
(MUD), no pleito que marcará seu retorno às eleições após cinco
anos, devido ao seu então boicote eleitoral.
O presidente considerou também que, "independentemente" dos
resultados do processo, "todo" o cartel de mudanças socialista
venezuelano "chama poderosamente a atenção do mundo inteiro, porque
aqui há uma verdadeira revolução".
Ao longo do dia, mesmo dirigentes da oposição, como a Igreja
Católica da Venezuela, destacaram a "normalidade" e a "alta
motivação" que caracteriza a jornada eleitoral.
Vários candidatos dos partidos contrários a Chávez instaram todos
os setores nacionais a respeitarem os resultados do pleito, que
serão anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O candidato Richard Blanco ressaltou a forte participação do povo
e considerou que as eleições são uma oportunidade para propiciar o
"reencontro" dos venezuelanos, citando um lema utilizado por outros
candidatos e dirigentes opositores, que dizem querer "recuperar" uma
Assembleia "plural".
Além disso, Henry Falcon, governador do estado de Lara e
dissidente do chavismo, destacou o caráter "histórico e inédito" do
processo deste domingo e pediu à população para "sair e votar
maciçamente pela democracia da Venezuela".
Falcon abandonou o PSUV no começo do ano para se unir às fileiras
do esquerdista Pátria Para Todos (PPT), o que suscitou na época
críticas e acusações de Chávez, que chamou todos os integrantes da
formação de "traidores".
O PPT apresenta seus próprios candidatos neste pleito - no qual
também serão eleitos 12 representantes da Venezuela ao Parlamento
Latino-Americano -, propondo uma "alternativa" à extrema polarização
do país, e atrair, além do opositor tradicional, o eleitorado
desiludido com o "chavismo".
Faltando horas para serem conhecidos os resultados, se especula
quem pode ser mais beneficiado pela alta participação dos eleitores
nesta eleição, qualificada de histórica por alguns. EFE