Barcelona, 13 out (EFE).- A Fundação Tàpies de Barcelona abre a
temporada 2010-11 com a primeira retrospectiva na Europa da artista
brasileira de origem italiana Anna Maria Maiolino, com o tema
movimento neoconcreto, surgido no Rio de Janeiro, que defende a
subjetividade na arte e se afasta da abstração geométrica.
A exposição, que faz um recorte de seus 50 anos de trajetória
artística, apresenta como carro-chefe seus desenhos, mas também
exibe suas fotografias, filmes, esculturas e instalações.
Nascida na região italiana da Calábria, Anna Maria emigrou com
sua família para a Venezuela e, aos 18 anos, se mudou para o Brasil,
onde vive atualmente. No entanto, entre as décadas de 1970 e 1980,
morou alguns anos em Nova York e Buenos Aires.
As várias mudanças geográficas e a complexa experiência de se
deparar com contextos culturais, sociais e lingüísticos diferentes,
influenciaram seu trabalho, que demonstra uma preocupação recorrente
pela identidade, linguagem e construção do sujeito.
"O trabalho em arte me ajudou a poder localizar no mundo meus
sentimentos e transformar a ausência em compensação mediante um
constante processo de elaboração de sinais e metáforas", disse.
Embora não faça parte do movimento neoconcreto, que defende a
recuperação do corpo e a subjetividade na arte, além de se afastar
da abstração geométrica, a artista participou, nos anos 60, com
Hélio Oiticica e Lygia Clark, de algumas exposições e atividades
desta tendência.
Segundo a curadora Helena Tatay, as peças da ítalo-brasileira
evidenciam "uma preocupação pelo corpo e pela linguagem, entendidos
como elementos moduladores da subjetividade e da dimensão social do
indivíduo".
Em outras obras se encontram alusões à situação política do
Brasil durante a ditadura militar (1964-1985), como nas cartografias
afetivas dos "Mapas Mentais" (1971), entre as que se destaca "Alma
Negra da América Latina". Em "Entre Vidas" (1981), a artista caminha
descalça em uma rua cheia de ovos, em alusão à mistura do medo e da
esperança que vivia então o país.
Satisfeita com o resultado da exposição, que ficará aberta até o
dia 16 de janeiro de 2011, Anna Maria confessa: "Agora preciso de
dois anos sabáticos, por que a alma do artista se alimenta também de
não fazer nada, de ler, de ver o trabalho de outros artistas". EFE