Arena do Pavini - A mudança na presidência do Banco Central (BC), com a saída de Ilan Goldfajn e a entrada de Roberto Campos Neto, não deve trazer impactos para os mercados, avaliam dois ex-diretores do banco. Para Alexandre Schwartsman,ex-diretor para assuntos internacionais do BC, houve um avanço institucional importante na condução da política monetária, ou seja, na forma como o país define suas taxas de juros básicas. “Isso dá um grau de previsibilidade muito maior para os mercados e aumenta a eficiência da política de juros”, disse, ao participar de evento da gestora Western Asset.
Schwartsman observa que Goldfajn entrega um Banco Central em condições bem melhores do que encontrou, “uma casa mais arrumada”, com a inflação do IPCA fechando o ano em 3,8%, bem abaixo da meta, de 4,5%, e com a surpresa de índices mais baixos no fim do ano. “Roberto Campos Neto vai receber uma casa em ordem, e terá vários diretores integrantes da equipe de Goldfajn continuando, como ocorreu com Armínio Fraga”, lembra. Campos Neto vai ter, assim uma equipe experiente para ajudar no processo de transição. “Em um segundo momento, temos de ver como será a equipe que o próprio Campos vai montar”, diz.
Tentação da política cambial
Mas o economista vê uma estão com relação à política cambial, que é a atuação do BC nos mercados de dólar. Apesar de o mercado ser flutuante, o BC costuma atuar para equilibrar os mercados, oferecendo proteção cambial (hedge) via contratos de swap ou vendendo linhas de dólar quando há falta de moeda, de acordo com as situações. Quando o dólar cai demais, o BC atua recomprando esses swaps ou essas linhas, para equilibrar os mercados. Em geral, o mercado chama esse sistema de “regime de flutuação suja”, em que o BC, sem definir a tendência da moeda, atua nos mercados para evitar a disparada do dólar ou que ele despenque por fatores temporários.
Schwartsman, que cuidou dessa área no BC, observa que, nos últimos anos, essa intervenção no câmbio tem sido exitosa. E teme que o novo presidente do BC, com uma linha mais liberal e menos intervencionista, elimine essas intervenções, deixando o mercado de câmbio totalmente livre. “O risco é o novo presidente do BC ter a tentação de parar com isso, mas eu espero que a atuação do BC para equilibrar a liquidez continue, mantendo o câmbio flutuante com intervenções pontuais e uma política monetária independente”, diz.
Transição tranquila com equipe antiga
Já outro ex-Banco Central, Mário Mesquita, que comandou a área econômica do banco, e hoje é economista-chefe do Banco Itaú (SA:ITUB4), diz que a transição está sendo bem conduzida. “Boa parte da equipe atual vai continuar no novo governo, e o Ilan (Goldfajn) fez um excelente trabalho”, disse, durante apresentação a jornalistas. Para ele, Campos Neto deve continuar esse trabalho. “Esperamos ver em breve a aprovação da tão esperada autonomia do BC, estamos na iminência de ela ser aprovada”, afirma.
Por Arena do Pavini