Helen Cook.
Johanesburgo, 16 jul (EFE).- O número de jovens com aids caiu de
forma significativa em oito países da África Subsaaariana, uma área
que concentra 71% das 33,4 milhões de pessoas afetadas pela doença,
segundo relatório da ONU.
"Em Costa do Marfim, Etiópia, Quênia, Malauí, Namíbia, Tanzânia,
Zâmbia e Zimbábue foi registrado um forte descenso no número de
pessoas infectadas pela aids, o que veio acompanhado por mudanças
positivas no comportamento sexual dos jovens", assegura a Unaids
(Agência das Nações Unidas na Luta Contra a Aids) em estudo
divulgado recentemente.
O organismo da ONU, que publica relatórios sobre a situação da
aids no mundo a cada dois anos, afirma que o Quênia registrou um
descenso de 60% no número de infectados entre 2000 e 2005.
Na Etiópia, o número de mulheres jovens grávidas afetadas pela
doença caiu 47% em zonas urbanas, enquanto nas zonas rurais a
diminuição foi de 29%.
A Unaids afirma também que em países como Camarões, Etiópia ou
Malauí, a idade em que os jovens começam a ser sexualmente ativos se
está sendo atrasada, enquanto em outros países da região diminuiu o
número de pessoas que têm vários parceiros ao mesmo tempo e aumentou
o uso do preservativo.
No entanto, segundo disse à agência Efe o porta-voz da
organização Médicos sem Fronteiras (MSF) e coordenador médico da ONG
em Genebra, Nathan Ford, nem tudo são boas notícias, já que sua
organização "não notou" o descenso no número de infectados.
"Desde que uma pessoa se infecta com o HIV até que surja a doença
da aids podem se passar dez anos. Portanto, embora a transmissão
esteja descendo agora, vamos seguir recebendo aqueles que se
infectaram há 10 anos e seguem precisando de tratamento", explicou o
porta-voz da MSF.
"Só notaremos o descenso na incidência da aids a médio prazo, mas
até então o número de pessoas que precisam de tratamento vai seguir
crescendo e, por enquanto, seguiremos trabalhando em situações nas
quais a necessidade de tratamento é muito maior que a
disponibilidade de medicamentos antirretrovirais", afirmou Ford.
Em novembro passado, a MSF denunciou o congelamento de fundos
internacionais dedicados à luta contra a aids e Ford afirmou, na
última quarta-feira, que a falta de dinheiro já começa a afetar
população.
"Levamos dez anos tratando a aids, e já sabemos o que funciona e
o que não, mas agora nos dizem que não há dinheiro suficiente",
reclamou Ford, que afirmou que, "na atualidade, apenas cerca de 30%
ou 40% das pessoas que necessitam de tratamento estão o recebendo".
Por outra parte, Ford ressaltou que há Governos da África
Subsaaariana que "rejeitam os novos tratamentos recomendados, que
melhoram o diagnóstico, propiciam a distribuição de drogas menos
tóxicas ou o antecipação do tratamento para que os doentes tenham
mais possibilidades de sobreviver".
Embora a Unaids destaque em seu relatório que, por exemplo, o
Governo da África do Sul tenha aumentado seu orçamento dedicado à
luta contra a aids em 30% em 2010, até chegar US$ 1 bilhão, o MSF
denunciou que o país é um dos que rejeita algumas das novas técnicas
de tratamento.
"O plano de tratamento da África do Sul para portadores do HIV é
bom em alguns sentidos, mas não aposta em antecipar o tratamento com
anti-retrovirais, pois seria mais caro, e isto também acontece em
Moçambique e Zimbábue", assinalou o porta-voz da MSF.
Por outra parte, Ford criticou que "há países da África
Subsaaariana, como Lesoto, que realizam grandes campanhas de
publicidade para convencer as pessoas a fazerem testes para
descobrir se estão infectadas com HIV ou não, mas depois não têm os
meios para tratar os que descobrem que estão". EFE