Fernando Prieto Arellano.
Ras el Jedir (Tunísia), 28 fev (EFE).- Os refugiados egípcios que deixam a Líbia e cruzam diariamente a região tunisiana de Ras el Jedir, na fronteira entre os dois países, denunciam que o embaixador do Egito na Tunísia e a imprensa egípcia não estão demonstrando preocupação com sua situação.
Enquanto agradecem pela ajuda que estão recebendo de instituições e da população tunisianas, os egípcios sentem-se abandonados por seus representantes oficiais e pela imprensa de seu país, que não é vista por Ras el Jedir, um lugar no meio do deserto que está repleto de jornalistas estrangeiros.
Por isso, os egípcios - a população mais numerosa entre as que passam diariamente por Ras el Jedir fugindo da revolta contra o regime do líder líbio, Muammar Kadafi - organizaram nesta segunda-feira espontaneamente uma manifestação para exigir a presença de seu embaixador e da imprensa de seu país.
Podiam-se ouvir frases como "Onde está a imprensa egípcia?" e "Onde está o embaixador?" ditas pelos manifestantes que, durante boa parte da manhã, protestaram em Ras el Jedir.
Uma fonte da Cruz Vermelha Internacional disse nesta segunda-feira à Agência Efe que o número de refugiados que cruzaram a fronteira nas últimas 24 horas poderia chegar a 10 mil, a maioria de nacionalidade egípcia.
Ras el Jedir está cheio de refugiados de todas as idades, a maioria homens, que carregam malas e cobertores e se abrigam em qualquer lugar à espera de que algum veículo possa levá-los ao acampamento provisório montado pelo Exército tunisiano a cerca de 8 quilômetros da fronteira e que a cada dia está mais abarrotado.
Durante a manifestação, os egípcios quiseram demonstrar seu agradecimento à Tunísia e à população tunisiana, pela ajuda e a solidariedade, principalmente se forem levadas em conta as pequenas dimensões do país e a delicada situação política que atravessa após a renúncia no domingo do primeiro-ministro de transição, Mohamed Ghannouchi.
"Viva o povo tunisiano", gritavam os egípcios, que se aproximaram das câmaras de televisão de emissoras internacionais em Ras el Jedir.
Um trabalhador voluntário de uma organização humanitária tunisiana dirigiu-se aos egípcios para tentar acalmá-lo através de um megafone, mas não obteve sucesso.
"As televisões estão aqui, portanto, no Egito sabem o que está acontecendo com eles", dizia um voluntário tunisiano.
"Não queremos apenas que nos deem comida, o que queremos é retornar para casa", disse à Agência Efe Ahmed, um dos manifestantes, visivelmente alterado, enquanto alguns de seus companheiros gritavam "nós egípcios estamos aqui".
Além disso, os egípcios mostram-se críticos em relação à atitude de seus representantes diplomáticos na Líbia, pois consideram que ficaram abandonados em meio a uma revolução que provocou centenas ou milhares de mortes pelos combates entre simpatizantes e opositores de Kadafi.
Allah, outro dos manifestantes, disse à Efe que em Trípoli a única indicação dada a eles pela embaixada egípcia foi para que se dirigissem ao aeroporto.
"Estivemos ali durante três dias, maltratados pela Polícia líbia. E não apareceu ninguém da embaixada", declarou.
Outros manifestantes revelaram que suas famílias no Egito lhes disseram que a televisão egípcia emite anúncios que informam que aviões e navios estão a caminho da Tunísia para repatriá-los, mas, segundo eles, "por enquanto não há ninguém".
"O Governo egípcio mente", disse Abdelkader, um dos manifestantes mais exaltados.
Enquanto isso, alguns egípcios tentam moderar um pouco a situação e ressaltam que, apesar de não receberem ajuda, entendem os problemas que seu país vive atualmente, após a revolução que em 25 de janeiro resultou na queda do presidente Hosni Mubarak. EFE