Investing.com - A próxima Cúpula do Brics deve debater diversos temas, entre eles uma eventual adoção de moeda comum para o grupo e a adesão de novos países. O encontro está marcado para os dias 22 a 24 de agosto em Joanesburgo, África do Sul e acende um alerta sobre as implicações dessas medidas para o dólar, a moeda americana.
O BRICS é um grupo de países considerados emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, com objetivo de cooperação econômica em setores que considerem vantajosos. No entanto, não possui uma aliança de comércio formal, mas negocia tratados que possam otimizar o crescimento econômico. A ideia foi formulada pelo economista-chefe do Goldman Sachs (NYSE:GS), Jim O'Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICs”.
Expansão dos BRICS
A expectativa é de que seja discutida uma eventual expansão do bloco, a primeira em cerca de uma década. De acordo com relatório do ING Economics, o foco tende a ser de entrada de países que já aderiram ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que é patrocinado pelos BRICS, como Emirados Árabes Unidos, Egito e Bangladesh.
“Os proponentes da mudança acelerada argumentam que alguns dos principais exportadores de petróleo, como Arábia Saudita, Irã e Nigéria, também podem ser incluídos. Especialistas, porém, alertam que os atritos entre a China - proponente da expansão - e a mais reticente Índia tornam o assunto altamente incerto”, completa o documento.
Moeda comum
A ideia da criação de uma moeda comum surge em meio a críticas crescentes sobre o poder da moeda americana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já se manifestou diversas vezes a respeito do tema, apontando que “não é possível depender do dólar para fazer comércio exterior” e que sonha “com a construção de várias moedas entre outros países que façam comércio e que os BRICS tenham uma moeda”.
O'Neil considerou “ridícula” a intenção dos BRICS de desenvolver sua própria moeda, segundo matéria do Financial Times, afirmando ainda que os países “nunca conseguiram nada desde que começaram a se reunir”.
No entanto, segundo o ING, “qualquer expansão do agrupamento BRICS pode determinar a velocidade com que o bloco adota sistemas comerciais e financeiros fora da esfera do dólar”.
Poder do dólar em risco?
Mesmo com críticas, a moeda americana segue como dominante. Ainda conforme o ING, a moeda comum dos BRICS teria potencial de desafiar o domínio do dólar, mas não haveria evidências mais conclusivas de um eventual declínio.
Desde a guerra da Ucrânia e o congelamento das reservas cambiais russas, a discussão sobre a fragmentação de blocos geopolíticos e um possível declínio do dólar, ou o que o ING chamaria de desdolarização, passa a ganhar força.
“Houve uma queda na participação do dólar nas reservas cambiais dos bancos centrais, mas o uso do dólar se manteve muito bem no comércio, ativos privados, emissão de dívida e, em geral, no mercado cambial global”, aponta o documento.
O ING considera que, entre os potenciais concorrentes do dólar, o euro seria o segundo colocado, ainda que com domínio apenas percebido na Europa. “Olhando para os BRICS, a ampliação das linhas de swap do renminbi pela China parece ter ajudado a promover o uso de sua moeda no comércio e nas reservas internacionais, e a aversão geopolítica da Rússia ao dólar deu ao CNY um impulso adicional, mas os controles de capital da China e a baixa emissão de títulos panda continuam sendo um obstáculo”, pondera.
O ING completa ainda que o uso crescente de moedas alternativas não ameaça o dólar, e sim elevar competição entre as moedas regionais diante da fragmentação do comércio e dos fluxos de capital.
“Longe de abandonar suas próprias moedas nacionais, presumimos que esse empreendimento poderia ser perseguido nos moldes de uma nova 'Unidade de Conta' – semelhante aos Direitos Especiais de Saque (SDR) do FMI. Por exemplo, o NDB ou outro comércio sendo conduzido em 'BRICS' pode exigir que os usuários detenham mais dessas moedas e potencialmente se afastem do dólar”, conclui.