Maite Rodal.
Haia, 16 dez (EFE).- O ano de 2010 foi revelador para a Holanda, onde os eleitores tornaram o Partido da Liberdade (PVV), legenda do polêmico líder de direita Geert Wilders, a terceira força parlamentar do país, superando os democratas-cristãos (CDA), vencedores nos pleitos anteriores.
As eleições de junho confirmaram a posição da Holanda, apesar de sua clássica tradição tolerante, como alinhada com a tendência europeia de ascensão dos partidos de direita, alguns deles caracterizados por políticas rigorosas e excludentes contra estrangeiros.
No caso holandês, o PVV, que passou de nove a 24 cadeiras em um Parlamento de 150 assentos, conquistou votos com uma linguagem populista centrada em um tema dominante: a luta contra o que considera a "islamização da Holanda" em particular, e da Europa em geral.
A ascensão de Wilders e sua legenda refletiu a decepção de muitos holandeses com a política dos partidos mais estabelecidos, especialmente dos trabalhistas e dos democratas-cristãos, este último liderado até então por Jan Peter Balkenende.
De acordo com o relatório da prefeitura de Amsterdã e do jornal "Het Parool", os eleitores de Wilders não são apenas holandeses de classe social baixa, mas, embora não reconheçam publicamente em muitos casos, também intelectuais e eleitores com ensino superior.
O eleitorado identificou na figura de Wilders o melhor defensor da liberdade de opinião, por este expressar livremente suas opiniões sobre o Islã e se atrever a criticar, como fazia o político assassinado em 2002 Pim Fortuyn, o "fracassado" modelo de sociedade multicultural que parecia inquestionável na Holanda.
Os partidos mais votados no pleito de 2010, os liberais (31 cadeiras) e os trabalhistas (30 cadeiras), também endureceram durante a campanha suas visões sobre a imigração, mas não chegaram a considerar o Islã como uma ameaça à sociedade holandesa.
A ascensão do Partido da Liberdade de Wilders nas eleições o levou a um papel de destaque na formação do governo, e no princípio das negociações não se descartou que chegasse a participar do Executivo.
Segundo Meindert Fennema, autor de uma biografia sobre Wilders, o político "tem um objetivo a longo prazo", que é ganhar tempo durante a legislatura para conseguir fortalecer seu governo e assim poder apresentar ministros em futuras formações do Executivo.
"Wilders estava consciente de que ainda não havia gente com experiência política suficiente neste pleito", explicou Fennema à Agência Efe.
A instabilidade atual do partido se refletiu também nas notícias publicadas durante o mês de novembro na imprensa holandesa, que denunciou episódios relacionados em maior ou menor grau com fraudes e delitos que envolviam cerca de sete deputados do PVV de Wilders.
Diferentes pesquisas publicadas na imprensa nacional indicaram que, apesar de as manchetes terem afetado a imagem do partido, não provocaram a confiança da maior parte dos eleitores de Wilders.
Os próximos quatro anos porão a toda prova a estabilidade do partido anti-muçulmano na Holanda, cujo sucesso dependerá da governabilidade do atual Executivo. EFE