Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O aprofundamento da recessão econômica levou as distribuidoras de energia elétrica do país a elevarem a projeção de sobras de eletricidade contratada neste ano, o que pode representar perdas bilionárias a serem divididas entre as concessionárias e os consumidores, afirmou nesta terça-feira o presidente de uma associação da indústria.
As distribuidoras compram energia com anos de antecedência em leilões realizados pelo governo federal, mas a queda da demanda puxada pela retração da economia e pelo forte aumento das tarifas em 2015 deixou as empresas com excesso de contratos frente à carga mais baixa.
A Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) projeta que os contratos de compra de energia das empresas representam 113,3 por cento do consumo previsto para este ano, ante uma projeção de anterior de 107,1 por cento.
"Houve uma degradação muito acentuada da recessão... o pessoal está enxergando uma queda de mercado maior que aquela que havia sido prevista em dezembro", disse à Reuters o presidente da Abradee, Nelson Fonseca Leite.
A previsão é resultado de levantamento junto a 51 empresas, que representam 95 por cento do mercado.
No final de março, a estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) informou que o consumo de energia no Brasil teve queda de 5,1 por cento em fevereiro ante mesmo período de 2015, com forte retração tanto nos segmentos industrial e comercial quanto nas residências.
Leite projetou que, com isso, o leilão de energia A-5 agendado para 29 de abril, que contrataria novas usinas para entrarem em operação em 2021, pode não ser necessário.
"Como essa questão da sobrecontratação vai se prolongar para os próximos anos, acho que ele agora seria desnecessário...(a demanda) seria muito baixa", disse.
São as distribuidoras que definem a demanda no leilão.
Segundo ele, a realização de trocas de energia entre as distribuidoras que possuem excesso de contratos e aquelas que eventualmente tenham necessidade de mais energia já bastaria para garantir o atendimento do mercado nos próximos anos.
SOBRA GERA CUSTO BILIONÁRIO
Pelas regras do setor, uma contratação de até 105 por cento da demanda tem os custos repassados aos consumidores, enquanto eventuais sobras de energia que ultrapassem esse nível podem representar prejuízo para as distribuidoras.
O ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Edvaldo Santana, estimou recentemente que um nível de contratação de cerca de 107 por cento poderia representar um prejuízo de 3,3 bilhões de reais a ser dividido entre os consumidores e os concessionários.
A Aneel tem estudado formas de mitigar o problema. Uma proposta em análise pela agência autorizaria usinas com atraso no cronograma a adiar a entrega de energia para as distribuidoras, o que reduziria os excedentes.
"Tem alguns geradores que já estão procurando as distribuidoras para repactuar contratos... mas está muito embrionário ainda, não dá para estimar (o efeito disso)", disse Leite.