Jerusalém, 7 jun (EFE).- O Governo do primeiro-ministro
israelense, Benjamin Netanyahu, teve a sua primeira queda-de-braço
interna depois do ataque ao comboio de ajuda humanitária que
pretendia romper o bloqueio israelense à Faixa de Gaza.
Nenhuma das cinco moções de censura apresentadas hoje no
Parlamento contra o Executivo foram adiante, mas ficou evidente que,
ao contrário de outros conflitos que sacudiram Israel na esfera
internacional - a Guerra do Líbano em 2006 e o ataque a Gaza no fim
de 2008 -, nesta ocasião, nem todos concordam com o Governo.
A principal moção foi defendida pela líder da oposição e
dirigente do partido centrista Kadima, Tzipi Livni. O texto foi
rejeitado por 59 dos deputados presentes, apoiado por 25 e contou
ainda com nove abstenções.
Os outros quatro partidos que apresentaram moções contra o
executivo foram a coalizão de partidos árabes Ram-Ta'al (Lista Árabe
Unida-Movimento árabe para a renovação), o Partido Comunista Hadash,
de maioria árabe, o bloco pacifista Meretz e a formação árabe Balad
(Pacto Nacional Democrático).
"Temos total fé no Estado de Israel, nos seus valores e cidadãos,
mas o atual Governo não representa Israel", disse Tzipi pouco antes
da votação na câmara ao defender sua moção.
O ataque há uma semana ao comboio que pretendia chegar a Gaza com
ajuda humanitária deixou nove ativistas turcos mortos.
Às críticas do exterior soma-se a reprovação das cinco formações,
em uma semana na qual a imprensa e a esquerda pacifista israelense
expressaram rejeição pela forma "incompetente" da abordagem e pela
inutilidade de continuar o bloqueio à faixa palestina.
No entanto, é preciso destacar que no caso do principal partido
da oposição, dirigido por Tzipi, a moção apresentada hoje não
questiona o ataque, mas sim o primeiro-ministro evitar
responsabilidades e tentar dirigi-las à instituição militar.
A esta situação é preciso acrescentar também o isolamento
internacional a que Israel está sendo submetido no plano político, o
que não parece favorecer a decisão adotada ontem por Netanyahu de
rejeitar o pedido das Nações Unidas de que a operação militar
israelense seja investigada por uma comissão internacional.
Após saber da iniciativa de Tzipi, Netanyahu criticou a líder da
oposição, a quem pediu "contenção e responsabilidade", após
ressaltar que "a próxima frota se vislumbra no horizonte e que é
necessário ter plena confiança no Governo".
O premie israelense lembrou que quando aconteceu o ataque militar
israelense há mais de um ano em Gaza - que deixou mais de 1,4 mil
palestinos mortos e também foi fortemente criticado pela comunidade
internacional, sendo considerado um massacre - ele estava na
oposição e apoiou o Governo o tempo todo.
Netanyahu defendeu que então não apresentou uma moção de censura
contra o Governo do primeiro-ministro, Ehud Olmert, do partido
Kadima, o mesmo de Tzipi, que era chefe da diplomacia israelense.
As moções apresentadas hoje contra a coalizão de Governo mais
conservador de Israel não parecem ter chances de prosperar.
Enquanto isso, a ONU afirma que "não fechou a porta" para uma
investigação ao ataque à frota, apesar de Israel rejeitas a criação
de uma comissão internacional.
O porta-voz da ONU, Farhan Haq, assegurou que o organismo
internacional mantém intensos contatos com todas as partes
envolvidas no caso para encontrar um consenso. EFE