Lisboa, 19 mai (EFE).- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse hoje, após a reunião de cúpula com Portugal, que o século XXI
será daqueles países que se perderam no século XX e se comprometeu a
apoiar a economia lusa, imersa em uma grave crise.
Portugal é a "porta de entrada" para o Brasil na Europa,
sustentou Lula, que acredita que o futuro será ótimo para o país.
O presidente Lula e o primeiro-ministro de Portugal, José
Sócrates, firmaram sete acordos, um deles para produzir
biocombustíveis destinados ao mercado português e espanhol.
Lula e o primeiro-ministro mostraram estar em boa sintonia e
destacaram seu apoio a um maior volume de negócios, investimentos e
cooperação entre ambos os países.
Mais de 600 empresas portuguesas investiram 20 bilhões de euros
no Brasil e chegou o momento de os empresários brasileiros
investirem em Portugal, acrescentou Lula.
O presidente voltou a criticar a regulação financeira e o atraso
europeu para reagir à crise econômica grega, questionou "por que
deixaram a Leman Brothers quebrar", o que desencadeou na tempestade
financeira nos Estados Unidos, e lamentou que os ricos que causaram
a crise não pagarão pela recuperação.
Por sua vez, Sócrates afirmou, em entrevista depois da reunião de
cúpula, que os acordos assinados "marcam um novo momento nas
relações de Portugal e Brasil".
Lula se mostrou confiante que o Brasil fará grandes progressos.
Como argumento, ressaltou os esforços feitos para construir 14 novas
universidades e conseguir que 31 milhões de brasileiros migrassem da
pobreza para a classe média e 21 milhões saíssem da pobreza
absoluta.
Os dois governantes destacaram a crescente presença de empresas
brasileiras em Portugal, como as construtoras Votorantim e Camargo
Corrêa, a aeronáutica Embraer e a Petrobras. Lula mencionou a
Portugal Telecom (PT), "com forte investimento no Brasil", e o
propósito de contar com a "colaboração portuguesa" para levar a
banda larga a todo o país.
"O potencial do Brasil pode ajudar a impulsionar a economia
portuguesa", afirmou o presidente, diante de um sorridente Sócrates,
que na semana passada anunciou um pacote de duras medidas para
reduzir o déficit português e fazer frente à desconfiança dos
mercados.
O primeiro-ministro também ressaltou o empenho das empresas e do
Governo luso "para acolher investimentos brasileiros e afirmar o
investimento português no Brasil".
Durante a reunião, Portugal expressou seu apoio à pretensão
brasileira de ocupar um lugar permanente em um novo Conselho de
Segurança da ONU. Ambas as nações sublinharam a necessidade de
reformas na organização.
A cúpula também respaldou a criação de uma confederação de
empresários para estimular o diálogo de organizações da Europa e
América do Sul. Além disso, destacaram a realização de um congresso
cultural sobre a língua portuguesa, em novembro, no Rio de Janeiro.
Ambos os países também se comprometeram a impulsionar o português
como língua internacional e, quanto a imigração, foi lançado um
"mecanismo de consultas" que terá sua primeira reunião no Brasil,
preocupado com a situação legal das dezenas de milhares de
brasileiros que vivem em Portugal.
Os convênios assinados se referem, além disso, à pesquisa para
extrair petróleo em águas profundas, a luta contra o doping no
esporte e a cooperação portuguesa para o processamento de resíduos
urbanos no Brasil.
O acordo sobre biocombustíveis permitirá à companhia petrolífera
lusa Galp e à Petrobras investirem 357 milhões de euros em uma
refinaria de óleo de palma brasileiro que em 2015 produzirá 260 mil
toneladas anuais de combustível vegetal nas proximidades do porto de
Sines, a 163 quilômetros de Lisboa.
Em sua estadia de apenas seis horas em Lisboa, Lula entregou
junto ao presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, o prêmio
literário Camões, o maior da Língua Portuguesa, ao cabo-verdiano
Armênio Vieira.
Após deixar Portugal, o presidente brasileiro concluiu sua viagem
pela Rússia, Qatar, Irã e Espanha. EFE