Juan Lara
Praga, 26 set (EFE).- O papa Bento XVI defendeu hoje na República
Tcheca as raízes cristãs da Europa, "sem as quais não se entende o
continente", e denunciou que as feridas deixadas pelo comunismo
neste país propiciaram uma mentalidade consumista e uma crise de
valores humanos e religiosos.
Em seu primeiro dia em território tcheco, o pontífice fez em
Praga uma veemente defesa das raízes cristãs da Europa em um país no
qual os católicos são menos de 30% da população e os ateus, mais de
60%.
"A verdade do Evangelho é indispensável para uma sociedade
próspera", afirmou Bento XVI em sua chegada a Praga diante do
presidente tcheco, Vaclav Klaus.
O pontífice ressaltou que sua visita coincide com o vigésimo
aniversário da queda do comunismo e da Revolução de Veludo tcheca.
Para o papa, uma vez recuperada a liberdade, é necessário que os
tchecos descubram as tradições cristãs que moldaram sua cultura.
Bento XVI fez uma defesa ainda mais forte das raízes cristãs no
discurso que fez diante de Klaus, do Governo e de diplomatas no
Palácio Presidencial, onde disse que a Europa é "mais que um
continente" e reiterou o "insubstituível papel" do cristianismo para
a formação dos europeus.
Na mesma ocasião, o papa afirmou que sem o cristianismo, não é
possível entender o continente, já que a beleza de suas praças,
igrejas e pontes expressam a fé.
"Seria trágico se essas belezas fossem admiradas ignorando o
mistério transcendente que representam", argumentou o pontífice.
Segundo o papa, essas raízes cristãs favoreceram o espírito de
perdão, de reconciliação e de colaboração que abriu as portas, após
a queda do comunismo, a uma nova era. Para ele, a Europa precisa
desse espírito novamente.
"A Europa é mais do que um continente. É uma casa e a liberdade
encontra seu significado mais profundo no fato de ser uma pátria
espiritual. No pleno respeito da separação entre a política e a
religião, reitero o insubstituível papel do cristianismo na formação
das pessoas que chamam este continente de casa", disse.
Diante de religiosos, catequistas e leigos, com os quais se
reuniu na catedral de São Vito - construção reivindicada pela Igreja
e que a Justiça tcheca considera como propriedade do Estado -, Bento
XVI lembrou que o "longo inverno da ditadura comunista" pesa no
momento de testemunhar o Evangelho.
"A sociedade ainda sofre com as feridas causadas pela ideologia
atéia e, com frequência, fica fascinada com a moderna mentalidade do
consumismo hedonista, com uma perigosa crise de valores humanos e
religiosos e à deriva de um relativismo ético e moral", afirmou o
papa.
Diante da famosa imagem do Menino Jesus de Praga, o pontífice
denunciou a violência e a exploração que atingem centenas de
milhares de crianças no mundo.
O papa pediu para que as crianças recebam "o respeito devido, já
que são o futuro e a esperança da humanidade".
Aproveitando a visita do papa à igreja onde fica a imagem do
Menino Jesus, foi colocado um cartaz no edifício do Ministério da
Educação tcheco, que fica nas proximidades, o qual pedia a
reabilitação de Jan Hus, teólogo reformista tcheco que morreu
queimado em 1415 acusado de heresia.
Amanhã, Bento XVI viajará para a cidade de Brno, na região da
Morávia, onde se concentra o maior número de católicos tchecos. Lá,
o pontífice rezará uma missa. EFE