Bruxelas, 13 dez (EFE).- A zona do euro deve vivenciar uma "modesta recuperação" que "provavelmente inverterá a estrutura de crescimento regional anterior à crise", de modo que os países com maiores déficits correntes, como a Espanha, crescerão a um ritmo menor que os superavitários, como a Alemanha, nos próximos anos.
Esta é a conclusão do relatório sobre a região publicado nesta segunda-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no qual alerta sobre as "graves" ameaças que ainda pesam sobre a recuperação, relacionadas com o potencial de depreciação dos ativos bancários, o endividamento estatal e os desequilíbrios nos países periféricos.
Neste sentido, a organização pede que se impulsionem as reformas encaminhadas para superar as limitações que a zona do euro possui como entidade supranacional, para tramitar adequadamente a retirada desses países da crise.
"A crise econômica foi o primeiro grande teste ao qual se submeteu a zona do euro", revelando que seu sistema de Governo, onde as competências estão repartidas entre organismos nacionais e supranacionais, dificulta a adoção de respostas rápidas, em momentos nos quais a rapidez pode ser "crucial".
"Foi imposto um novo enfoque global", que deveria "se apoiar em um amplo leque de políticas que permitam enfrentar os desequilíbrios macroeconômicos, favoreçam o saneamento das contas públicas (processo que deve começar em 2011 em todos os países) e impulsionem instrumentos de vigilância do sistema financeiro", diz o relatório.
A União Europeia "deverá reforçar a vigilância" sobre todas estas áreas mediante o anunciado endurecimento da disciplina, que deverá incluir sanções mais rigorosas e fáceis de serem aplicadas aos países que não atendam às recomendações.
Esse marco deverá ser completado com o mecanismo permanente para países insolventes que atualmente a UE prepara e que, de acordo com a OCDE, deverá estar sujeito a "estritas condições" e esclarecer a prioridade de cobrança dos bônus soberanos de países "resgatados".
Além disso, seria "conveniente" permitir que o futuro mecanismo possa adquirir títulos de dívida pública nos mercados secundários para esfriar possíveis reaquecimentos de dívida da zona do euro.
Por outro lado, a organização propõe introduzir conselhos nacionais de vigilância orçamentária independentes dos Governos para melhorar a avaliação das contas públicas.
Estas iniciativas devem ser complementadas com a adoção de medidas estruturais nas economias com déficit corrente, mas também nas superavitárias, embora a OCDE reconheça que o ajuste "levará mais tempo e será mais difícil" e doloroso nas primeiras.
Assim, os países deficitários que, como a Espanha, viveram um "reaquecimento econômico" no período anterior à crise, deverão impulsionar um ajuste de preços e salários, "para restaurar a competitividade e facilitar a reestruturação dos setores que viveram uma forte expansão durante os anos de crescimento".
A OCDE acredita que é preciso um congelamento de preços durante cinco anos em Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, combinada com uma inflação de 2% no resto dos países, para retornar a taxas de câmbio equivalentes às de 1999.
A OCDE destaca que a Espanha já previu reduções dos salários dos funcionários e que a reforma trabalhista poderia contribuir para o processo de normalização.
A organização também critica as políticas que fizeram os preços dos imóveis subir, como na Espanha, onde o setor viveu uma alta de preços de 80% entre 2002 e 2007, França, de 70%, e Irlanda, 45%.
Além disso, a OCDE ressalta a necessidade de se aumentar a capacidade de resistência a futuros choques e destaca que o emprego demorará para se recuperar.
Por outro lado, a organização ressalta o importante papel desempenhado pelo Banco Central Europeu (BCE) durante a crise, embora acredite que deverá elevar as taxas de juros assim que surgirem riscos de inflação e retirar progressivamente as medidas excepcionais adotadas para enfrentar a crise de dívida.
Por último, alerta sobre os riscos associados ao setor bancário, por isso que recomenda a realização de testes de solvência periódicos às principais entidades para avaliar o potencial de depreciação de seus ativos.
O extenso documento destaca que a Espanha é o país que tomou medidas mais enérgicas para garantir a saúde de seu sistema financeiro, mediante os requerimentos de capital impulsionados pelo Banco de Espanha (banco central) a partir de 2000 e a mais recente reestruturação do setor das caixas econômicas. EFE