Isabel Saco.
Genebra, 15 mar (EFE).- Passados dez anos desde os compromissos
que a ONU aprovou para melhorar a vida dos mais pobres do planeta,
884 milhões de pessoas seguem sem acesso à água potável e 2,6
bilhões não dispõem de saneamento básico nos locais em que vivem.
Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) diz que, apesar
desses números, os avanços no âmbito da água são certamente
encorajadores, com 87% da população mundial bebendo e utilizando
água apta para o consumo.
Por outro lado, a situação é decepcionante quando se trata do
saneamento básico: 39% da população mundial não tem acesso a ele.
A diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, María Neira,
explicou à Agência Efe que a diferença no progresso alcançado nas
duas áreas se deve, entre outros fatores, a "razões culturais e à
falta de investimento" e "de colaboração entre os diferentes setores
públicos envolvidos".
"É preciso uma mudança cultural para que o saneamento seja
considerado uma necessidade tão clara e tão óbvia como o é o acesso
à água potável", acrescentou.
Segundo o estudo, os avanços foram diferentes de acordo com as
regiões: um terço das pessoas que não têm acesso à água limpa vive
na África Subsaariana, onde 40% da população sofre com essa
situação. Já quase metade das pessoas que ganharam acesso à água
desde o começo dos anos 90 está na Índia e na China.
Em relação ao saneamento, só metade da população dos países em
desenvolvimento tem um banheiro, uma latrina ou um poço séptico de
uso doméstico. Os maiores progressos nesse campo nos últimos anos
foram registrados no norte da África e em regiões do leste e do
sudeste da Ásia.
"Vale a pena chamar a atenção sobre algo que é tão óbvio que
quase dá vergonha dizer isso em 2010. Sem água potável e saneamento
básico, não há nenhuma base de saúde pública que possa se
desenvolver. Se não acabarmos com essa situação, nunca vamos
arrancar esses povoados da pobreza", disse Neira.
Segundo os resultados do relatório, o mundo alcançará o objetivo
do Desenvolvimento do Milênio de cortar pela metade o número de
pessoas sem acesso à água potável em 2015, mas fracassará em fazer o
mesmo em relação aos serviços de saneamento.
A "boa notícia" é que a prática de defecar ao ar livre -
considerada a mais perigosa do ponto de vista higiênico - está em
declínio no mundo inteiro em termos percentuais, embora tenha
aumentado em números absolutos.
Se em 1990 era uma prática de 25% da população mundial, hoje essa
taxa se situa em 17%.
Por outro lado, embora a população mundial esteja dividida quase
em partes iguais entre rural e urbana, a grande maioria dos que não
têm água potável nem saneamento está no campo.
O relatório mostra que as disparidades entre o campo e a cidade
são particularmente visíveis em três regiões: América Latina e
Caribe, sul da Ásia e Oceania.
As diferenças de gênero também ficam evidentes na questão do
acesso à água limpa. Em dois terços das famílias que não têm água
encanada em casa são as mulheres que vão buscar esse recurso em
outros lugares.
"Muitas das mortes por diarréias que ocorrem a cada ano, além de
outras doenças ligadas à falta de higiene, afetam mais as mulheres e
as crianças porque são elas que dedicam horas a carregar água",
explicou a diretora de Saúde Pública da OMS.
Isso significa, acrescentou a especialista, que os menores não
vão à escola e, inclusive, se expõem a violações e agressões quando
têm que buscar água em áreas remotas.
Além disso, o relatório revela que a água não-potável e as
práticas insalubres influenciam na morte de 1,5 milhão de crianças
menores de 5 anos todos os anos. EFE