Sintra (Portugal), 19 set (EFE).- O almirante Giampaolo di Paola,
chefe do Comitê Militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan), destacou hoje em Lisboa a importância de que a aliança siga
investindo nas forças de segurança do Afeganistão.
"Um assunto está claro. É preciso seguir investindo e ainda com
mais ênfase nas forças de segurança do Afeganistão", considerou Di
Paola, que discursou no fechamento da conferência que reuniu entre
ontem e hoje o Comitê Militar em Lisboa e Sintra, onde foi avaliado
o papel das missões da Otan.
O Comitê Militar é integrado pelos 28 chefes de Defesa da
aliança, que representam os países-membros, e seu objetivo é dar
assessoria militar ao Conselho do Atlântico Norte, a mais alta
autoridade política da organização.
O encontro, cujas sessões foram a portas fechadas, examinou com
especial atenção a operação que a Otan leva a cabo no Afeganistão,
onde está desdobrada a Força Internacional de Assistência para a
Segurança (Isaf).
Seu comandante, o americano Stanley A. McChrystal, mostrou na
reunião um relatório sobre a situação em território afegão, onde,
segundo dados oficiais, no primeiro semestre do ano morreram 1.013
civis vítimas do conflito, o que representa um aumento de 24% frente
ao mesmo período de 2008.
A Isaf, que foi criada em dezembro de 2001 pela ONU e que está
sob comando da Otan desde 2003, é integrada por 64 mil militares de
42 países-membros e não-membros da aliança. Mesmo assim, nos últimos
dois anos os talibãs conseguiram se reorganizar em várias partes do
país.
Di Paola, que explicou que o documento exposto por McChrystal
está em fase de "uma cuidadosa" avaliação, disse que o Afeganistão é
um assunto "fundamental" para a Aliança Atlântica e antecipou a
abertura de um processo de reflexão que culminará na cúpula da Otan
de 2010, em Portugal.
A conferência contou com a participação de outros altos
militares, entre eles os responsáveis dos comandos de operações,
transformação e forças aliadas do sul da Europa e do Comando
Conjunto de Lisboa, este último líder da unidade de combate contra a
pirataria marítima.
Segundo o Chefe do Comitê Militar, a missão, que começou
recentemente, continuará se desenvolvendo e a aliança buscará a
maneira de melhorar sua contribuição.
O chamado Escudo Oceânico começou em agosto passado e luta contra
a pirataria em águas do Chifre da África, com a contribuição de
cinco fragatas, procedentes de Itália, EUA, Turquia, Grécia e Reino
Unido.
Além de Afeganistão e Somália, a aliança conta com outra
importante missão no Kosovo, dotada atualmente de 16 mil soldados
procedentes de 24 nações e cujo fim é manter a paz na região e
oferecer apoio à missão das Nações Unidas (Minuk).
Di Paola também abordou a relação da Otan com a Rússia, a qual
acaba de ser proposto o início de uma nova etapa de colaboração, e
considerou que "algo está se movimentando" para sua reconstrução.
"Superar o período frio do agosto passado (...) é uma aspiração
política e militar", assegurou o almirante, que desejou que a Rússia
se envolva "seriamente" nessa tarefa.
A aceleração da transformação da aliança para desenvolver uma
nova relação política e uma maior capacidade operacional com o
objetivo de responder aos desafios do mundo global foi outro dos
pontos discutidos.
O novo conceito estratégico da organização, surgido a partir do
ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 nos EUA, foi discutido
por vários especialistas em relações internacionais durante o fim de
semana.
Di Paola, que ontem disse que a Otan enfrenta desafios maiores
que os da Guerra Fria (1947-1991), e o chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas portuguesas, General Luis Basco Valença Pinto,
presidiram a conferência do Comitê Militar, realizada pelo menos
três vezes ao ano. EFE