Cidade do Vaticano, 28 jul (EFE).- O secretário de Estado do
Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, denunciou hoje que o "mercado
da cobiça substituiu o livre mercado" e que a mudança na relação
entre finanças e produção de bens e serviços registrada nos últimos
30 anos é uma das causas da crise econômica.
Bertone fez essas declarações em discurso pronunciado hoje no
Senado italiano, onde esteve para explicar a nova encíclica do papa
Bento XVI "Caritas in veritate" (caridade na verdade), de caráter
social e em que a crise atual é analisada.
O cardeal italiano disse que a primeira causa da crise precisa
ser buscada na mudança radical das relações entre finanças e
produção de bens e serviços que se consolidou desde a década de
1970.
Segundo Bertone, muitos países ocidentais condicionaram suas
economias a investimentos que dependiam de rentabilidade sustentável
de novos instrumentos financeiros, expondo a economia real a
caprichos das finanças.
Também ressaltou que o consumidor foi condicionado a gastar mais
que seu poder aquisitivo permitia.
A segunda causa, segundo o cardeal, foi transformar a "eficácia"
no último critério na hora de justificar medidas econômicas.
"Assim, se chegou a legitimar a cobiça - que é a forma mais
conhecida e mais divulgada da avareza - como uma espécie de virtude
cívica. O mercado da cobiça substitui o mercado livre", afirmou o
cardeal.
Para ressaltar ainda mais sua crítica, Bertone citou o filme
"Wall Street - Poder e Cobiça" (1987), em que o protagonista, o
investidor sem escrúpulos Gordon Gekko, dizia que "a cobiça é boa e
justa".
O cardeal ressaltou que outro ponto da crise é preciso ser
buscado na nova cultura que surgiu à sombra do processo de
globalização, na hora de interpretar o princípio de liberdade.
Bertone insistiu na necessidade de garantir o bem comum e disse
que se o sistema econômico não for corrigido, no futuro podem surgir
situações como as atuais. EFE